Olá Divinas e Treteiras,
Como passaram as últimas semanas? Se foi como a gente, certamente estão exaustas nessa altura do campeonato de 2024. Mas mesmo cansadas, trouxemos aqui textos emocionantes, reflexivos e até esperançosos, de certa forma.
Desejamos que as festas e as férias sejam cheias de saúde, física e mental, pra todas (e todos) nós e que vocês estejam conosco no nosso retorno em fevereiro.
Agora chega de papinho e vamos pros textos que neles tem novidades que vocês não perdem por esperar!
Beeeeijo!
Eu e o tempo
As horas não passam, os minutos se arrastam, parece que a vida entrou no tempo da academia, que, para mim, é o mais lento que existe. Faz uma prancha por dois minutos para ver como o tempo demora a passar.
Lembro de pensar isso ao amamentar minha filha recém-nascida. Eu ouvia um podcast inteiro de uma hora ou mais, depois uma série, depois comia, tomava banho, amamentava, cochilava e repetia, não necessariamente nessa ordem. O tempo passava devagar; o primeiro mês dela durou um ano para mim. E assim, nesse arrastar de dias e madrugadas, chegamos aos dois anos de vida dela. Daí sim, o tempo voltou a correr no seu ritmo normal. Voltei a ver o mundo com os meus olhos limpos, sem aquele nevoeiro do puerpério. Ufa. Não foi uma volta com data e hora marcada, foi por volta de dois anos depois do nascimento dela. E logo depois, a dúvida: outro filho? Agora ou depois?
A dúvida ficou no ar, mas o ar agora estava mais leve e o tempo passava rápido e eu queria aproveitar isso tudo um pouco mais. Quando, por fim, decidimos ter outro filho, o tempo deu uma acelerada maior ainda e, quando vi, estava grávida, sem nem ter ido à obstetra antes. Achei que ia demorar, mas não, foi até que rápido.
Lá estava ela, minha outra filha, na minha barriga: Iara. Uma sereia nadando no meu útero. A vida de novo pulsando dentro de mim, me dando chutinhos, provocando enjoos e desejos. Causando um alvoroço na cabecinha da sua irmã mais velha.
Estou à espera da nossa destemida Iara (reconvexo), que, curiosamente, já conheceu folha e água da Amazônia. A sua espera é diferente, agora tenho uma fora e uma dentro. A carga já aumenta na gravidez, achei que demoraria um bocado mais. Estou muito emotiva. Se penso na relação das duas irmãs, choro de alegria; se penso em todas as dificuldades que isso vai implicar, choro de tristeza. O olho está limpo agora, achei o tempo no seu compasso e me preparo para sair dele quando parir.
Poderia falar sobre tantas coisas que já aconteceram nesses primeiros meses: o preconceito com a grávida que não pode fazer exercício físico, o corpo da grávida que é sempre assunto, a falta de tato e noção ao falar com a mais velha sobre a chegada da mais nova, os medos do parto e a falta de assistência decente em nosso país, as perguntas indelicadas, tipo: "Mas foi planejada?" Não, eu estava andando pelada, caí em cima do pinto do meu marido, que também estava pelado no chão da casa, e daí aconteceu. Rsrs. Claro que gravidez não planejada acontece, mas ninguém me perguntou isso quando tive a primeira.
São tantos assuntos que invadem nossas vidas assim que contamos para o mundo da nova gestação. Mas é fim de ano, estou cansada demais para problematizar, só consigo pensar nesse tempo, que foi, voltou e, já já, vai de novo e depois volta.
Ele me assusta e também me mantém firme. A máxima do "vai passar" tinha de fato passado. Agora ela vai voltar. Não estou pronta, estou mais consciente e menos exigente comigo e com elas, as minhas meninas, que, quando eu menos esperar, vão brincar sozinhas no quarto. E aí eu e o tempo vamos nos encaixar novamente.
Ói nóis aqui travêis
Você provavelmente já releu algum livro, reassistiu aquela série ou filme, andou de novo na mesma montanha russa, né? Essa sensação de estar de novo vivendo exatamente a mesma coisa, você já sabe o que vem, quem foi o assassino, qual a virada do roteiro, quando vai ser a queda vertiginosa… pelo menos era assim que eu tava achando que seria essa segunda viagem. Sim, minhas amigas, estou grávida de novo. E não, minhas amigas, não tá parecendo reprise, tô vivendo muita coisa pela primeira vez outra vez.
Algumas (poucas) coisas estão com gostinho de deja vu; mas no geral, estar de novo nessa viagem tem sido toda uma nova montanha russa (pra manter na mesma metáfora).
Enjoei bem mais, senti muito mais o sono avassalador do primeiro trimestre, apesar de estar muito bem num geral, dentro do esperado (eu falo que estou “muito bem” mas na verdade passei por uma covid e uma outra infecção logo em seguida que me levou a chamar o raul algumas vezes e pra tomar soro no hospital, mas “tô bem”).
Mais do que me preocupar com o andamento dessa gestação, o que me tira mais o sono é ter um filho já tendo outro filho e me levanta uma pontinha de ansiedade (que eu, ansiosa em recuperação, fico super atenta pra não deixar vir). Desde que soube que estava esperando segundinho, sabia que o primeirinho não ia curtir muito essa ideia. Ele nunca pediu irmão (e eu nunca disse que essa escolha era dele, mas as pessoas gostam de perguntar isso pra filho único né) e desde o momento em que contamos pra ele, têm sido frequentes as demonstrações de descontentamento e ciúmes. A gente acolhe, explica que tudo bem se sentir assim e que quando o bebê nascer tudo vai mesmo ser diferente mas que diferente não quer dizer que seja sempre ruim (ou sempre mil maravilhas). É apenas diferente.
Outro desafio dessa segunda viagem tem sido me ver sem muito tempo pra descansar. Estar gestando é uma fase em que a gente deveria desacelerar, aceitar ser cuidada, entender que pausar e descansar é o trabalho mais importante e que não há nada de errado em fazer isso. Mas quando você já tem uma criança pequena que demanda e toda uma vida com ritmo acelerado que depende de você, é mais fatigante ainda fazer valer essa necessidade de uma nova velocidade. Muitas vezes somos nós mesmas que demoramos a perceber e implementar esse novo ritmo, mas na maior parte das vezes é o mundo que reclama e tenta nos fazer acreditar que estamos erradas em pedir calma.
Mas um lado muito bom de viver isso nesse momento tem sido ter a companhia da Cat nessa empreitada. Há uns meses a gente falou, brincando, que seria legal estar grávidas juntas e quando ela fez o anúncio no nosso grupo, eu, que tinha acabado de saber da minha própria gravidez, quis revelar pras Divinas também, pegando a onda na notícia dela mas por um bom motivo: nosso sonho irá se realizar, duas barrigudinhas (e depois puérperas) juntas! Não sei o quanto tiveram influência os eclipses de 2024, mas falando por mim, acredito que os astros realmente se alinharam, eu descasquei o medo pra caber coragem e a gente aqui fez acontecer.
Como posso estar triste…
Como eu posso estar triste se…eu sou mãe?
A trend do ano de 2024 me lembrou muito dessa felicidade que é socialmente dito que nós mães precisamos ter.
Precisamos sempre ser gratas pela dádiva da maternidade, porque né... parece algo quase pecaminoso reclamar de uma situação que é quase “divina”.
E mãe de gêmeos? Essa, então, tem mais que obrigação de agradecer e ser feliz. Gêmeos e casal então... segundo diversas pessoas é uma grande “sorte”.
Como vou ser triste se sou mãe de gêmeos?
E quando a gente é mãe de um casal de gêmeos então... felicidade é quase que é obrigatória.
O fato que ser mãe de três, de gêmeos, de um casal de gêmeos não é o que me deixa feliz. Ok, não me deixa triste, mas também não é essa dádiva que todos acreditam e muito menos eu me sinto grata por tal feito.
Ser mãe de três é uma alegria, é muito amor dado e recebido, mas extremamente desafiador, cansativo e um trabalho infinito de doação e quase anulação.
Tem a felicidade de filhos que se ajudam, que se acompanham, que vivem a “fraternidade” nas partes boas e ruins. Casa cheia, montinho de amor, mas muito, muito, muito trabalho e invalidação.
Como divina cheidifilho e tendo minhas amigas recém mãe de múltiplos cabia a mim fazer aquele texto onde eu dizia todas as coisas boas de ser mãe de três. Desculpa, gente, falhei.
Eu tentei fazer um texto sobre maternidade múltipla muito positivo. Eu juro. Mas termino 2024 em um modo tão exausta, tão sobrecarregada, que tá difícil fazer parte dessa trend.
A maternidade tem guiado minha vida, quer eu queria ou não, porque para mãe é algo que não é eletivo. E isso tem sido uma questão pra mim, sim.
Sou infeliz sendo mãe? Não. Mas sou plenamente feliz? Como eu posso estar feliz se ser mãe é tão condicional?
A melhor pior coisa do mundo
Meu segundo texto nessa newsletter foi sobre ter dois filhos. Na época meu mais novo ainda era um bebê (falho em aceitar que ele já não o seja mais, mas vambora) e eu estava sofrendo as primeiras caídas de ficha do que significa, na prática, ser mãe de dois. Resolvi aproveitar essa edição temática tão especial para atualizar minha visão sobre criar mais de uma criança - uma visão que amadurece e se transforma a cada dia, como quase qualquer coisa relacionada à maternidade.
Ontem mesmo eu estava conversando com uma amiga que teve dois filhos mais ou menos na mesma época que eu tive os meus, e chegamos à mesma conclusão infeliz: nosso corpo não se recuperou da segunda gravidez da mesma forma que da primeira. Ganhamos peso e não perdemos. Nossa barriga mudou. Falando de mim, posso dizer que o impacto da segunda gravidez em mim foi infinitamente maior que o da primeira. O corpo simplesmente não “voltou”, como talvez tenha voltado após a primeira. Vejo que isso é bem comum, apesar de também ter amigas que viveram mais de uma gravidez e que estão com o corpinho arrasante.
Com uma outra amiga, que também tem dois filhos das mesmas idades que os meus (estranhamente tenho algumas amigas assim, parece que combinamos de parir juntas), com frequência nos pegamos falando sobre o nível de dificuldade da maternidade de dois, incomparável com ter apenas um. Deve ser algo generalizado essa sensação de quando você sai com apenas um dos filhos sente como é tranquilo, como é suave, como parece que você está saindo com sua amiga (meu caso com minha mais velha) ou sem filho nenhum (meu caso com meu mais novo).
Toda vez que me pego falando dessas partes negativas, sinto também que elas não são fidedignas à realidade. Afinal, ter dois filhos nos dias de hoje, com tantas demandas extras que nossos pais e avós não tiveram, é mesmo algo que beira a insanidade, mas ao mesmo tempo é uma delícia sem fim. Sou mais ter dois do que ter um só, por mais controverso que isso soe depois de tantas queixas.
É que hoje em dia o negócio tá complexo mesmo. Antigamente, as mulheres eram ensinadas a romantizar a maternidade, a desejá-la acima de tudo, a verem a criação dos filhos como algo que completaria sua existência. Depois, num movimento contrário a esse, as mulheres começaram a ter voz e falar da “maternidade real”, expondo os cansaços, as frustrações, as raivas e tristezas do dia-a-dia de uma mãe, que em nada se relacionavam com aquele sonho dourado de maternidade. Mas aí cá tô eu mais uma vez sem me encontrar em nenhum dos dois discursos. A maternidade nunca foi meu sonho, mas tampouco virou minha dor maior.
Eu adoro ser mãe e não, nunca fantasiei em ser pai negligente e ausente. Me divirto genuinamente com algumas travessuras das crianças, me enervo terrivelmente com outras. Às vezes cheiro a cabecinha suada recém-chegada da escola e me enterneço a tal ponto que nada mais no mundo me poria naquele estado de alegria.
Ser mãe é sim muito bom. Ser mãe de dois e ter o privilégio de acompanhar o desenvolvimento da relação fraternal de dois seres humaninhos em todas as suas camadas é algo realmente incomparável. Não tem nada no mundo que supere isso. E sim, também acho que não existe amor como o amor que se tem por um filho - podem me cancelar, pessoas do movimento Child free.
Maternidade é isso aí mesmo, ambivalência pra cacete, algum preto no branco, mas também todo um espectro de microtons de cinza. É tanto cinza que a gente nem dá conta de entender tudo. É mesmo mais fácil poder caminhar nos extremos de “maternidade me completa totalmente” ou “ser mãe é uma merda”. Mas essa pluralidade de caminhos do meio, que oras tão mais prum lado, oras mais pro outro, esses caminhos são complexos demais.
Se me perguntam se eu recomendo ter dois ou mais filhos, minha resposta é não. Recomendar, eu recomendo um livro, uma série, um lugar pra passear. Filho é coisa séria e nem todo mundo está preparado pra tanta oscilação. E nem todo mundo é capaz de saber lidar com os caminhos cinzas do meio. Mas se você estiver, garanto, é a melhor pior coisa do mundo.
Dicas do Peito!
🐣 Com elas (as crias)
Lendo juntos
Da Ju
Se na primeira gestação eu não sabia nem que era possível (e proveitoso) ler com o bebê ainda na barriga, essa segunda criança já vai nascer sortuda, com tanto uma mãe leitora quanto um irmão que também vai ler pra ela. Eu já tinha alguns livros que contam dessa fase, pra tentar ajudar o primogênito a passar pela transformação de se tornar irmão, mas agora conheci mais alguns, e destaco os meus favoritos do momento aqui:
“Tudo que aconteceu antes de você chegar”
Da autora argentina Yael Frankel, mistura um pouco de poesia com a concretude da infância. A criança conta pro bebê tudo que aconteceu, alguns detalhes que muitas vezes só a ótica infantil vai achar pertinente destacar. Achamos bem fofo e as ilustrações são muito legais, parece desenho de criança.“A irmã do Gildo”
Da autora brasileira Silvana Rando, aqui o papo é mais “direto e reto”, não floreia muito, fala os lados bons e também ruins de receber um bebê na família. Indicaria pra quem tem criança bem pequenininha, os personagens são fofos e o Gildo é bem conhecido da galerinha.Natal no Museu do Pontal
Da Dani
Mais uma dica do meu museu favorito: Esse é ultimo final de semana do Museu do Pontal, com programação natalina cheia atividades para os pequenos.
Sábado, 21/12, às 16h: o ator mineiro Léo Brasil apresenta o Pequeno Auto da Estrela do Oriente uma história singela e meio surreal, meio cordel e musical. Estrelando: O Boizin Zé Peregrino, uns tais Magos, Sábios do Oriente e ainda uma misteriosa Arca do Papai Noé. Venha mergulhar nesse conto mirabolante e mágico em busca do Menino Estrelado. ⭐🌲
📚✨ A contadora Vanessa Lobo traz a história de um tucano que, inspirado na decoração natalina da cidade vizinha, resolve promover o Natal da bicharada. Brincadeiras não vão faltar nesta atração.
Além dos espetáculos, sábado e domingo tem visita musicada às 11h e 15h e baú de brinquedos populares às 12h e 17h. Toda a programação é gratuita e os ingressos são distribuídos 45 minutos antes de cada atividade.
Mais informações em: Museu do Pontal (@museudopontal)
Da Catarina
Imagina o tanto que eu chorei nesse filme ao ver que agora a Moana tem uma irmã? Sim, eu choro até com desenho. Mas o filme realmente está muito bom, vale ver no cinema. No caso da minha pequena, tiveram muitos momentos de medo e olhinhos fechados, e outros de vibrar e torcer pela Moana. No final, a trilha sonora foi o maior sucesso, e estamos há duas semanas ouvindo as mesmas músicas. Rsrs.
💃 Sem elas (as crias)
Água com açúcar
Da Ju
Eu, que geralmente gosto de livros, filmes e séries mais pesados, nessa fase tô com a cabeça aérea e querendo ver aqueles bem água com açúcar. Indico aqui alguns que me acompanharam nos momentos de repouso:
SérieFilmes
Guay Restaurante
Da Dani
Fui em um restaurante super gostosinho na Tijuca, que é uma ótima dica para ir sem as crias e também com as crias no final de semana, principalmente.
O Guay Restaurante tem um menu delicioso, cardápio com opções veganas e um ambiente super acolhedor.
Mais informações em: www.instagram.com/guayrestaurante
Listinha de Filmes e Séries
Da Catarina
Bora aproveitar essas férias? Contém toda a ironia desse mundo… Mas, enfim, segue uma listinha pra quando sobrar tempo e energia.
Black Dove: Mini série, meio ação com drama. Um tanto óbvia, porém daquelas fáceis de assistir. Na Netflix.
Duna: Série. Eu estou amando essa série da HBO. Baseada no universo de Duna, produção incrível, com ótimas atuações e aquele enredo de futuro distópico que assusta, mas prende a atenção.
Como Água para Chocolate: Série. Baseada na história do filme de mesmo nome, é um dramalhão super estilo novela mexicana. Não amei, mas é boa. Vale pelas receitas.
Quarto ao Lado: Filme. Do Almodóvar, uma história comovente que te faz pensar sobre a vida e a forma como encaramos o seu fim. Eu gostei demais. Atuações maravilhosas. No cinema.
A Garota da Vez: Filme. Uma história real super cruel de um serial killer de mulheres, que escancara como somos desacreditadas e como o sistema favorece o homem branco. No Prime.
Twister: Filme de ação, também mais levinho. Achei a história boa, um entretenimento sem grandes pretensões, só pra passar o tempo mesmo. Não se compara ao original, mas também não ficou péssimo, como costumam ficar essas regravações.
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→ Para ouvir sem as crias
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