Divinas Tretas #32
Newsletter carioca sobre maternidade. E dicas do peito, com as crias e sem as crias.
Olá, Divinas!
Já se passaram mais quinze dias, vocês sentiram? Desejamos que possam gastar alguns minutinhos pensando conosco sobre tantos assuntos que permeiam a nossa realidade e colocar em prática um tiquinho das dicas.
Em nossa 32ª edição, vocês irão encontrar caminhos para tentar superar as comparações, se libertar de padrões tóxicos, refletir sobre trajetórias paralelas que não necessariamente dependiam das suas decisões, os poderes possíveis (que não são os que escolheríamos) que nascem com a maternidade e, por fim, as noias sobre criar adolescentes.
Boa leitura!
O topo do iceberg
Outro dia estava conversando com uns amigos sobre uma conhecida em comum que sempre mostra a vida que ela está vivendo como sendo perfeita, às mil maravilhas. Mesmo em conversas informais, dificilmente ela divide medos, angústias, frustrações. É como se até as dificuldades da vida dela fossem sempre positivas. Mas nas entrelinhas ela às vezes transparece problemas, e logo camufla, passando a imagem de que tudo na vida dela transcorre melhor do que na sua. Ela não está errada em só expor o lado feliz da vida dela, afinal, cada um tem um nível de exposição que se sente confortável em fazer e não sou nenhuma amiga íntima para ela querer se abrir e dividir questões mais pesadas. E isso me levou a pensar sobre a comparação que fazemos com a vida dos outros.
Quando abrimos o Instagram, vemos uma fatia de vida de cada uma daquelas pessoas que acompanhamos - tanto influencers desconhecidos, quanto amigos da vida real. Uma fatia que a pessoa escolheu mostrar pro mundo, que pode corresponder a muito pouco do que ela está vivenciando naquele momento da sua trajetória. E, baseado apenas nessa curta edição da vida de outrem, nós somos implacáveis em julgar as nossas próprias escolhas.
Na maternidade, isso fica ainda mais complexo. Nesse post da página Se Parir, da psicóloga e amiga Adélia Jeveaux, ela traz um pouco sobre essa sensação de estarmos sempre meio erradas, meio inadequadas na nossa forma de criar nossos filhos, no momento em que vemos essa fatia de vida de outras mães/crianças/famílias nas redes sociais.
Quantas vezes não me senti mal vendo perfis de mães zero telas, de atividades lúdicas, montessorianas, sensoriais, quando minha filha estava entregue ao tablet?
Ou me preocupei de ver meu filho de menos de dois anos já filando umas comidas com açúcar da irmã mais velha, quando via receitas de bolos de banana e aveia - bolos esses, inclusive, que já fiz trocentas vezes, todas imediatamente desvalidadas perante o momento de exceção do caçula comendo doce antes da idade permitida. Isso sem contar essas numerosas famílias gringas desses perfis entusiastas das famílias de múltiplos filhos. Como pode uma mulher conseguir estar estilosa assim, cuidando de 10 crianças e grávida todo ano? Ah, e muitas vezes ainda fazendo homeschooling - isso não invejo em nada, sou contra, algum dia quem sabe vira tópico prum texto aqui.
Mas a verdade é simples: tá todo mundo passando por algum perrengue que pode transparecer nas redes sociais ou não; pode aparecer como tópicos em conversas ou não.
Não existe casamento 100% perfeito, não existe maternidade sem anseios, não existe pessoa feliz o tempo todo, todo dia, toda hora, plenamente satisfeita com todas as suas escolhas de vida. Tá todo mundo tentando, e tá todo mundo errando também, só que uns só mostram os acertos.
Ziraldo termina Flicts concluindo que por mais que Flicts nunca achasse seu lugar, de perto, de pertinho, a Lua é Flicts. Pois eu termino esse texto lembrando a você que por mais que você ache que não tá dando conta porque tem outras mães encampando outras batalhas que te soam mais nobres, de perto, de pertinho, todo mundo é falho.
A voz (parte 2)
Esta é uma obra de ficção, continuação do texto da Edição #30
Carol se lembrava exatamente do momento em que decidiu que bastava. O dia em que recebeu de uma amiga uma mensagem chamando pra um chopp depois do trabalho, tomou coragem (sim, pra ela era preciso coragem pra fazer isso) e combinou com a sogra pra buscar sua filha na escola aquela tarde. Tudo bem que a avó trocasse a janta pelo sorvete, ainda que a menina tivesse só 3 anos, mas ela sentia que valeria a pena sacrificar esta refeição. A voz a dizia que era importante encontrar essa amiga que há tempos não via. Era uma das primeiras vezes em algum tempo que a voz não era maldosa com ela, o que interpretou como um bom sinal.
A amiga estava tão mudada, radiante, o melhor adjetivo. Sua voz estava mais leve, o cabelo solto se movimentava quando elas se encontraram naquela esquina, num abraço tão apertado que podiam sentir o coração uma da outra. Já sentadas e servidas, a amiga seguiu a contar de como estava numa fase tão boa, agora que o filho ficava 3 dias da semana seguidos na casa do pai e ela tinha tempo de ser só. De ser ela mesma. De fazer as refeições na hora que quisesse (e se quisesse), sem precisar seguir um horário ou cardápio adequado pra criança. De sair do trabalho direto pra praia ou pro cinema. De ter só as meias do filho pra catar pela casa.
De aceitar que (enfim) era só ela mesma de adulta da casa, era passado o tempo de ficar esperando que o outro fizesse.
Carol saiu daquele encontro tão eletrizada, tão empolgada com o que ouviu da amiga. Ficou até com uma ponta de inveja quando ouviu dela que agora finalmente conseguia ser leve com o filho. Que agora sim tinha espaço mental pra acomodar melhor seus pensamentos, sentimentos, se via uma mãe mais paciente, como sempre quis ser. E Carol quis ser assim também.
Será que seria preciso se separar daquele cara pra poder viver essa almejada maternidade mais suave? Ela não tinha certeza se queria desistir deles dois ainda, mas sabia que não queria desistir de ser essa mãe mais leve e muito menos queria desistir de si.
Carol sentia a voz sorrindo, dessa vez orgulhosa dela. Ainda levaria algum tempo pra que essa decisão daquele dia do chopp realmente se concretizasse, mas depois daquele encontro a voz tornou-se mais amiga do que inimiga, mais encorajadora do que crítica, mais gentil do que cruel. Carol e a voz finalmente fizeram as pazes.
E se
Sempre gostei de filme de loop temporal. Sabe aqueles que vão e voltam no tempo até dar um nó na cabeça danado de tanto que você precisa se concentrar?
Teve um filme que me marcou demais, de 1998: “De caso com o acaso”. Nele, a atriz principal perde o trem. A história se desenrola mostrando o que aconteceu em consequência disso e o que aconteceria se ela não perdesse o trem.
Sei bem que viver de “e se” não é muito bom. Eu costumo dizer que o “e se acaba nunca fondo”.
Mas, mesmo assim, milhões de “e ses” rondam a cabeça da gente, querendo ou não. Quantos trens a gente já perdeu ou podia ter perdido que mudou tanto o rumo da nossa história? Junto com isso eu fico pensando no acaso. O quanto dele é real e quanto da nossa história é construído por nós mesmos.
Esse dilema filosófico existencial aparece muito mais quando a gente tá pensando nos diversos caminhos que percorremos na vida. É um mix de nostalgia, curiosidade, arrependimento. De algo que nem sabíamos que seria tão melhor quanto o que a gente percorreu, mas pelo simples fato de ser desconhecido, passa a ser também fascinante.
O fascínio é porque a gente fica pensando em que medida podíamos ter interferido em algo, mudado o destino, qual trem que a gente podia ter corrido mais para pegar.
O trem podia nem ter sido melhor. Mas e se fosse?
O e “e se acaba não fondo”, mas e se fosse?
Superpoderes
Uma casa de frente para o mar, um gramado verdinho à sua frente, muito espaço, algumas redes penduradas nas árvores, um pequeno rio passando ao lado, o som dos pássaros competindo com o som das ondas. Paz.
Cadê a criança? Você corre para o outro lado, grita perguntando se o pai viu. Os dois correm para o outro lado. Nada da criança, segundos que duram uma eternidade. Chama o nome da criança e nada. Até que lá está ela, tentando encher um pote com o chorume que sai da composteira. Você pensa em dar uma bronca na criança, mas só consegue beijar e abraçar. Mesmo um lugar de total tranquilidade, oferece perigos para a sua pequena criança exploradora e sem noção.
E então vem novamente uma vontade antiga, que parece ser a única coisa que vai restaurar de fato a minha paz interior e a exterior também. Superpoderes.
O da cerca invisível, poder criar uma em qualquer lugar amplo pra criança nunca sair da sua vista.Não lembrei de nenhum super-herói ou heroína que tenha esse poder um tanto específico. Com ele eu tomaria um café na boa, sem me contorcer.
Senhora incrível (braços elásticos), esse seria muito útil. Poder pegar um livro enquanto não posso me mover porque estou amamentando e tentando fazê-la dormir. A Bruxa da Cinderela, o poder de fazer dormir apenas com um toque e acordar com um beijo de mãe. Mulher-aranha que solta repelente, pomada pra assadura e protetor solar dos pulsos.
Ser a Tempestade do X-men para congelar a pequena toda vez que ela vai quase cair ou decide sair correndo como se fosse o ônibus do Velocidade Máxima. Acho que o poder de congelar eu usaria demais, acabaria abusando dele. Imagina: – fica aqui congelada por umas horinhas pra eu tirar um cochilo. Certamente a fada dos superpoderes não permitiria esse, pois o risco das crianças não crescerem nunca, por conta da alta frequência de congelamentos, poderia ameaçar o futuro da humanidade.
No livro Departamento de Especulações da Jenny Offill tem a seguinte frase (a mãe falando sobre a filha):
"Por ela, eu abriria mão de tudo, do tempo sozinha, do livro brilhante, do selo que tem minha foto, mas apenas se ela aceitasse ficar deitada comigo em silêncio até fazer dezoito anos. Se ficasse deitada em silêncio comigo, se eu pudesse afundar meu rosto no cabelo dela, então sim, sim, eu me rendo"
É isso, se tivéssemos o superpoder de controlar nossos filhos, a maternidade seria o nirvana que tanta gente acha que é, mas não é.
Esses momentos de afundar o rosto no cabelo deles duram segundos e são poderosos, porém passam rápido e logo me lembro que meus únicos superpoderes são conviver com a ansiedade e o medo constante, sem enlouquecer completamente. Ah, e também ganhei uma capa de invisibilidade para a vida social sem filhos quando saí da maternidade. Gênio da lâmpada, cadê você?
A treta da adolescência
O medo de ser mãe de adolescente vem crescendo em mim. Não é nem que eu tenha aprontado muito e fico imaginando as crianças reproduzindo isso, são as coisas simples que me assolam.
Tipo, andar na rua sozinho. Vira e mexe eu quase sou atropelada, mesmo na calçada ou esperando na faixa direitinho. Penso na mente de um adolescente com adrenalina pura, saindo correndo de casa atrasado, sem olhar direito pra atravessar. Penso nos assaltos que podem ocorrer, da criatura com o celular na mão completamente distraída. E o controle sobre o conteúdo do celular, o que conversam, com quem falam, o que acessam? E aquela festinha na casa de um amigo que não era bem assim e eles se juntaram pra ir a um lugar esquisito, sozinhos, na madrugada?
Minha vontade é nunca deixar meus filhos irem à casa de alguém desacompanhados. Mas eu sei que esse dia vai chegar. E eu preciso me focar no que é possível controlar.
Quando eu tinha 16 anos, estava num orelhão em outro estado ligando pra um namoradinho. Um homem parou o carro olhando pra mim e se masturbou. Eu acho que eu nunca tinha visto uma cena daquela na vida. Eu nem entendi direito o que tava acontecendo. Outra vez, no ônibus indo pra escola sozinha, nessa mesma idade, um outro cara sentou do meu lado e ficou tentando colocar a mão na minha perna, abrindo as pernas o quanto fosse possível para me encostar ainda mais pro canto da janela.
Minha mãe nunca soube dessas situações. Não foi porque eu tivesse medo de contar, eu só não entendia que isso era grave, que eu tive sorte. Tá bom, nesse quesito, acredito que vou cuidar melhor dos meus e não deixar subentendido.
Eu tenho andado nostálgica da minha adolescência, foi um período muito rico de amigos, de cuidado, de vida tranquila. Eu saía muito com uma amiga para as festas da família dela, que era imensa. Elas eram 3 irmãs. Então, além delas, do pai e da mãe, eu também ia de carona. Tá ligada que não cabem 6 num carro de modo seguro, né? Mas, eu ia. Meus pais permitiam. Parece simples, mas será que eu vou confiar em uma outra família levando meus filhos pra uma festa sem saber sobre a segurança do caminho e sem saber se vão beber e voltar dirigindo? Tem uma vizinha nossa de 6 anos que vira e mexe vem brincar com a minha mais velha. Ela vem sozinha. Eu escuto os gritos de: "para de chorar se não eu vou aí te bater" na casa dela e toda vez que o pedido da minha filha pra ir lá chega, eu disfarço.
Mas um dia o pedido virá com muitos argumentos. E eu não tô preparada para perder o controle que eu acho que tenho.
Dicas do Peito!
🐣 Com elas (as crias)
Pará no Museu do Pontal
Da Dani
Nos dias 23 e 24 de setembro o Museu do Pontal realizará o Festival do Pará.
Um programa para toda família com culinária, danças e cultura da região.
O lugar é lindo, acessível, tem estacionamento gratuito e nas proximidades.
Ainda dá pra aproveitar e conhecer o museu, que tem uma exposição permanente fantástica. As atividades são sempre incríveis e muito organizadas. Vale a pena conferir as 23h de programação.
É mais um daqueles programas BBB imperdíveis de serem feitos no RJ!
App - Brickit
Da Catarina
Esse aplicativo, o Brickit apareceu pra mim nas redes sociais e resolvi dar uma chance, já que toda fez que vou brincar de Lego com a minha filha eu faço apenas construções aleatórias e sem nenhum significado
Até que funcionou bem, tem alguns erros, mas ela não achou tanta grança. Eu adorei, talvez seja mais produtivo pra crianças maiores.
Da Pri
Para fugir dos vídeos e das músicas já tão conhecidas dos pequenos, quero muito que faça parte do repertório das crianças esses irmãos que dançam muito com a família, que ensinam iorubá e que têm um ritmo pra lá de contagiante. Agora estão com músicas novas. As que mais gosto são a do aniversário e let's dance.
💃 Sem elas (as crias)
Episódio Burnout Materno, do podcast O Assunto
Da Marcela
Foi muito compartilhado nas mídias, então talvez você já tenha ouvido. Mas reforço a dica do episódio sobre Burnout materno, do podcast da Natuza Neri. Nele, ela entrevista a psicanalista Vera Iaconelli. A Vera está lançando um novo livro que aborda a sobrecarga materna - já tô louca para ler - e a entrevista vai por esse tema. É meia horinha, dá pra ouvir na vida sobrecarregada que você, mãe, leva.Editais para projetos culturais
Da Ju
Se você é da área da cultura e às vezes fica um pouco perdida sem saber onde encontrar o dindin pra financiar seu projeto, se liga nessas duas dicas aqui:
O Prosas é uma plataforma de seleção e monitoramento de projetos sociais, que conecta patrocinadores, empreendedores sociais e cidadãos. Nela, você pode buscar por editais, usando filtros super específicos pra te ajudar e ainda se inscrever na newsletter, que te lembra os prazos dos editais mais importantes.
No Instagram, a Maf Economia Criativa, que realiza gestão, elaboração, produção e captação de recursos para projetos culturais, posta mensalmente uma lista com vários editais que estão abrindo ou finalizando naquele mês. Vale ativar as notificações das postagens pra não perder nenhuma.
Conheça Àvuà
Da Dani
Conheci esses dois artistas talentosíssimos bem ao acaso e eu sempre indico para quem gosta de música boa e conhecer novas vozes. Duas vozes negras, lindas, com letras que são verdadeiras poesias.
Vale muito a pena ouvir a playlist do Àvuà e ter contato com música brasileira desse gabarito!
App - Be beleza
Da Catarina
Esse app, o Be Beleza, promete ensinar a fazer maquiagem e ser seu guia do skin care. Eu ainda não testei porque não tenho vida social rsrs, mas achei que valia trazer pra cá. Assim que testar eu conto e mostro como foi.
Estudar um pouquinho a frente
Da Pri
Já que sou muito nervosa com essa coisa de adolescente, busco me informar, conversar com amigas que tenham essas crianças aí mais velhas. Eu amo o conteúdo da Estéfi Machado sobre isso. O último foi bem legal, sobre ir a um show com o filho e encontrar uns amigos dele. Como agir? Será que meus filhos vão gostar de mim? A minha sobrinha me acha uma tia bacana e sempre me lembra disso. Mas e as minhas crias?
🎶 Já conhece as nossas playlist no spotify?
→ Para ouvir sem as crias
→ Para ouvir com as crias
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