Divinas Tretas #12
Newsletter sobre maternidade real. Com dicas do peito do Rio e do mundo. Afinal, nem tudo é treta. Ou é?
Antes de tudo, muito obrigada por estar aqui!
Aviso: tudo que estiver em azul é link (pode clicar).
Qual o sexo?
Toda vez que alguém me conta que está grávida, uma série de pensamentos simultâneos veem a minha mente, e meu cérebro dá um leve bug: “coitada”, “eba, mais uma pro time”, “corajosa”, “tá fudida”. No entanto, invariavelmente a única coisa que sai da minha boca é: “Parabéns!”, e logo em seguida: “já sabe o sexo?”
Cada vez mais eu tento não perguntar porque vejo que damos importância demais ao gênero. Basta ver o tanto de coisa que colocamos nas caixinhas “isso é coisa de menina” e “isso é coisa de menino”. Por ex: João demorou pra falar, coisa de menino. Maria fala muito, coisa de menina.
E existe toda uma problemática envolvendo gênero, que é complicadíssima, e eu ainda estou tateando para entender. Acho que, na verdade, qualquer cuidador com a cabeça mais aberta e as anteninhas ligadas no mundo, ainda estão assimilando todas essas questões de pronomes neutros, troca de sexo, transgêneros e muito muito mais.
Poderia parar por aqui, que já teria motivos suficiente pra não perguntar qual o sexo da criança. Porém tenho mais um que me acontece com alguma frequência, que é o fato da minha filha ser confundida o tempo inteiro com menino.
E eu sei que isso é cultural, que se a menina não usa rosa, não tem brinco e não tá com cabelo enfeitado, é difícil saber se é menino ou menina e que na verdade isso nem deveria me incomodar tanto. Só que ainda me incomoda.
Uma vez na natação, outra mãe chegou e perguntou:
- Qual o nome dele?
- É Maya. E aí ela falou pra filha dela:
- Olha filha, o Mayo, que lindinho!
Eu reforcei: É Maya, ela é menina. E lancei um olhar de ódio.
Depois eu ri mas na hora fiquei muito ofendida. E a ofensa é minha, é sobre mim, não é sobre a minha filha. As crianças de hoje terão uma perspectiva tão diferente sobre esse assunto que talvez essa história nem faça sentido pra ela lá na frente.
Tudo está mudando absurdamente rápido e às vezes eu sinto que não dou conta de acompanhar. A cada semana surge um novo termo, um novo senso comum, uma nova polêmica, e aqui dentro eu ainda estou pensando no que é apropriado ou não dizer quando se sabe da chegada de um novo bebê.
O tal do ócio criativo
Se tem uma parada que me deixa irritada é essa mania de produtividade do mundo contemporâneo.
Eu realmente tenho muita dificuldade em ter que aceitar que eu tenho que ter alguma produção o tempo todo, minha gente.
O fim da picada foi aquele mundaréu de gente cismando que tinha que ser produtivo no meio da pandemia. Parece até que se você não tava em situação ruim precisava fazer um curso, aprender uma língua, descobrir um hobby.
Eu gostaria muito de morar num mundo sem essa pressão toda, sabe?
Porque eu realmente, apesar de ser mãe de três e ter pouquíssimo tempo livre, gosto muito de ter um ócio nada nadinha criativo.
Morro de rir quando alguém fala que não consegue deixar a casa suja ou louça na pia. Geeeeente, qual a dificuldade? Cola em mim que te ensino facinho a ter um ócio por ócio. Aconselho, hein!
Gosto de criar nada não. Gosto mesmo de ouvir música, assistir uma série tosca ou simplesmente dormir.
Por sinal, nós mulheres multitarefas e multifunções devíamos cada vez mais aproveitar o momento livre pra experimentar um ócio desses. Um ócio nada criativo.
Experimentar fazer uma coisa que goste sem pensar nas tarefas de casa, escola da cria, compromissos da família.
Aquele ócio de dar gosto, que só um ser humano desprovido dessa pressão produtiva é capaz de exercer.
Quem topa?
Mulheres ociosas, uni-nos!
Ilusão do controle
Quando eu soube que teria um menino, minha mente ansiosa já começou a pensar em como seria a criação dele, no sentido dos ideais feministas que nós pais vínhamos fortalecendo.
Vocês já sabem como eu gostava (e ainda gosto) do controle, então podem imaginar como eu pensava nos mínimos detalhes: os lookinhos sem gênero, bem neutros; a decoração do quartinho toda minimalista e escandinava; bonecas e carrinhos em igual proporção. Ainda na fase da barriga começaram a chover roupas e objetos azuis, insígnias de super heróis, monster trucks e afins.
Os primeiros marcadores de gênero ocuparam seu lugar. Também juntem a isso o fato de que ele ficava incrivelmente lindo de azul marinho, então era essa a cor dominante dos mini-bodies e macacões.
Ainda bebê, comprei uma boneca pra ele, dessas de borracha macia, sem cabelo. Linda, a “Nenéin”, como ele a nomeou. Mas quem dizia que ele brincava com ela?! A coitada ficava caída pelos cantos. Pra brincar de comidinha não era com ela, era com o Homem-aranha. Na hora do banho, a Nenéin? Não, o Batman.
Pra dormir agarradinho, o escolhido era o Thor de pelúcia. Também demos pra ele bonecas de pano, uma abayomi e uma de feltro, igualmente relegadas ao fundo da caixa de bonecos. Desisti e me entreguei aos carrinhos e heróis.
Aí a criança entra na escola e somos inundados pelos “de menina” X “de menino”. Laços e enfeites de cabelo? Só as meninas! Filmes de princesas? Não gosto! (Nem Moana e nem Frozen, que têm as melhores músicas, a gente pode assistir em casa). Aos 4 anos me disse que os colegas e ele estavam criando o “Clube dos meninos”, em que menina não entrava! E que no aniversário de 6 anos só queria convidar os meninos.
Imagina eu escutando isso, a mãe feminista que adolesceu misturada com os garotos, andando de skate, construindo pista, fazendo rolês de bicicleta! Tive que me manifestar e convidá-lo a repensar que meninas podem ser legais também. Mais recentemente chegamos na fase de ele recusar veementemente qualquer roupa rosa, com a fala
“É cor de meniiiiina!”, ao que eu já rebato automaticamente todas-as-cores-são-de-todas-as-crianças, dá nem tempo de pensar!
Esses dias, separamos uns brinquedos pra doação e meu coração se partiu quando ele colocou a Nenéin nessa caixa de saída. Fiquei super dividida, entre o “menino precisa ter uma boneca” e o “brinquedo que não é brincado vai pra outra criança que vai aproveitar”. E, assim, deixei a Nenéin ir. Melhor ela ser feliz com alguém que a ame e a gente seguir tentando viver o feminismo em outros âmbitos da vida.
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O problema das princesas
Esses dias minha filha viu Ariel pela primeira vez. A verdade é que eu nunca mostrei nenhum filme antigo da Disney pra ela. Ela vê Moana, Frozen, Encanto, enfim. Mas Cinderela, Bela Adormecida, Alladin, etc, considero drogas pesadas.
Eu sabia que eventualmente essas princesas tradicionais chegariam até minha filha, afinal fazem parte da cultura das crianças e não pretendo criar a Eva numa bolha, mas eu tentei retardar esse primeiro contato o máximo que pude.
Daí já há um tempo que ela conhece as princesas todas, mas não as histórias. Agora, fazendo um projeto sobre fundo do mar na escola, o interesse pela Ariel cresceu muito e chegamos no momento inevitável.
Mas por que eu evito as princesas tradicionais? Porque todas normalizam questões muito graves. E é através de produtos culturais que vamos nos inscrevendo na cultura e absorvendo valores normalizados. Vamos às questões graves então presentes nesses filmes velha guarda da Disney:
Rivalidade feminina: umas das coisas que mais me incomoda nessas histórias antigas é que sempre tem muita treta entre as mulheres. Uma madrasta má que quer o mal da enteada, irmãs feias que invejam a irmã bonita, bruxa má que quer envenenar a mocinha. Você pode perceber que isso sumiu nas produções recentes da Disney, graças às deusas - ou ao feminismo.
Amor romântico: "ah, qual o problema de mostrar um casal apaixonado, Marcela?" Além da óbvia heteronormatividade de todos os enredos, o problema é todas as narrativas girarem em torno do amor romântico, colocando-o como função primordial da vida da princesa. A princesa normalmente se sujeita a situações abusivas em prol do príncipe encantado. Ela também não têm outras pretensões de vida além de conquistar o amado e casar. E isso sendo apresentados a uma faixa etária que nem deveria se preocupar com se apaixonar! Já começamos desde cedo a incutir na cabeça de nossas meninas que se apaixonar é sofrer e idolatrar um macho normalmente boy lixo (os príncipes encantados são bem merda, pode reparar).
Padrão de beleza: todas as princesas tradicionais se encaixam num padrão de beleza bastante excludente. São todas magras, de olhos claros, brancas, cabelos lisos. E, além de tudo, são representadas de forma erotizada. Fiquei constrangida com a Ariel e seus fartos seios, sua roupa improvisada caindo, sua nudez.
Pode me chamar de exagerada, de chata, mas isso tudo chega em pontos seríssimos, como cultura da pedofilia e racismo estrutural.
Não comungo de nenhum desses valores. Não quero que minha filha absorva isso como normal.
wEntão vimos a Ariel ser ludibriada pela Úrsula má (a vilã é gorda, a mocinha é magra), vender a voz e renunciar a família só para tentar uma chance com um homem semi desconhecido que ela não sabia nem o nome quanto mais a índole pra já ter se apaixonado a esse grau. Vimos ela se desesperar por um beijo que salvaria sua alma enquanto era rejeitada pelo príncipe, que achava que ela não era quem ele buscava. Vimos o "final feliz".
Minha treta com o “ser mãe”
Me tornei mãe sem filho. Essa foi a primeira vez que pisei no mundo materno. Lembro bem de me reunir com a família para “comemorar o dia das mães” num boteco lá em Cosmos, bairro onde minha mãe cresceu, junto com os parentes mais próximos. No fim do almoço, meu pai gritou: - paga todo mundo que não for mãe. Quando chegou na minha vez, alguém disse: - a Priscilla também é mãe! Ele fez pouco caso, soltou um "uhum" qualquer e seguiu a vida. Eu disse que sim, eu era mãe. Eu tinha tido um filho. Ter que fazer o esforço de pontuar esse lugar é se enveredar num emaranhado de emoções.
Era o primeiro dia das mães sem a minha que, por coincidência, morrera naquela data comemorativa no ano anterior, enquanto eu carregava meu filho na barriga também. As duas sendo mães até às 23h. Pra ela, que não está aqui, aquele bebê existiu. O presente que ela mais queria.
É pesado discutir um assunto tão marginalizado, porém é importante falar sobre a treta de ser mãe sem ter um filho nos braços. Dor invisível e silenciada. Não há muito a se fazer. E, definitivamente, tudo que mais me fez falta naquele momento foi acolhimento. Óbvio que eu não poderia saber sobre as questões práticas de como cuidar de um RN, de como usar da educação positiva ou ter noção da privação de sono. Mas, ainda assim, eu era mãe.
Parir a morte não é fácil.
Muitos diziam que não sabiam o que fazer ou dizer. E é isso mesmo. Não há.
Só é preciso estar.
Por isso, faço esse apelo a partir da minha experiência: não nos deixem sozinhas, não invalidem nosso luto, nos acolham, nos ouçam, fiquem em silêncio. Não nos deixem nos sentirmos menos mãe. Puxem a cadeira, façam um café e tragam um bolinho.
Dicas do Peito!
Com elas (as crias)
Árvore de Natal de brincar
Da Catarina
Comprei essa árvore ano passado quando ela tinha pouco mais de um ano e já foi sucesso. Esse ano repetimos e ela seguiu amando. Acredito que ainda vou usar por mais uns anos. É uma opção completa e que não ocupa tanto espaço. Filmei todo o processo de montagem da árvore e quero fazer isso todos os anos. Natal pra mim é tempo de boas lembranças.
Museu da Vida da Fiocruz
Da Dani
Para quem não sabe a Fiocruz não é só um lugar para produzir da vacina. O campus, localizado em Manguinhos tem vários institutos e locais para visitação para quem quer aprender um pouco mais de ciência e comprovar que a terra não é plana.
O Museu da Vida é um dos locais fantásticos lá dentro, que tem uma programação mensal e atividades voltadas para crianças e adultos e também visitação de escolas.
A visitação atualmente é realizada pelo e-mail recepcaomv@fiocruz.br e você pode acessar todas as informações no linktree deles.
Videos de livros infantis no youtube
Da Ju
Quem já não ficou na dúvida de como seria um livro infantil por dentro antes de comprá-lo? Naquela de “será que vai agradar minha criança?”... Então pega essa dica: jogue no Youtube o nome do livro e, muito provavelmente, terá algum vídeo de leitura por lá, tipo esse. Às vezes as pessoas não chegam até o final da história, mas muitas vezes sim e você consegue decidir se compra ou não.
Anote palavras e coisas fofas
Da Pri
Sempre que possível, mantenha um caderninho com as invenções bonitinhas da criança. Tenha duas certezas: em breve ela não vai fazer mais aquela fofurice e você vai se esquecer antes do que imagina. Daí, no futuro, sente com a cria e conte de quando ela falava "cucuqui" ao invés de biscoito.
Água:
Sem elas (as crias)
Quatro filmes levinhos
Da Catarina
Depois de um dia pesado, nada melhor que se jogar no sofá e assistir um filme levinho, daqueles que dão um quentinho no coração, ou provocam uma boa gargalhada. Acho que esses se encaixam na categoria “ver pra esquecer do mundo lá fora”.
Eduardo e Mônica, no Globoplay - Filme nacional baseado na música homônima do Legião Urbana. Uma história de amor linda e surpreendente.
Você nem imagina, na Netflix - Filme teenager sobre um triângulo amoroso diferente e apaixonante.
As justiceiras, na Netflix - Uma trama mais elaborada que te prende o tempo inteiro. Também de adolescente, sobre duas supostas amigas que querem vingança. Cheio de reviravoltas e atuações impecáveis.
Cidade Perdida, pra alugar ou no Telecine - Com Sandra Bullock e Channing Tatum como par romântico, mas o bom mesmo é a participação do Brad Pitt. Chorei de rir. Comédia pastelão com um toque de filme de ação.
Toalha removedora de maquiagem
Da Dani
Essa dica eu vi pela internet, comprei num lugar porque tava barato e deixei guardada um tempão por falta de credibilidade.
Eis que um dia resolvi dar a chance e pensei o tempo que perdi sem utilizá-la.
Indico demais essa tecnologia de remover a maquiagem apenas com uma toalha molhada, principalmente depois de uma festa ou noite que bebeu demais.
Vale muito o custoxbenefício e realmente cumpre o que promete.
Livros
Da Ju
Quer boas dicas de leituras pra você? Aqui estão os registros das minhas leituras de 2020/21 e 2022 (inserir link 2).
Tem muuuito livro bom pra te inspirar a ser uma pessoa leitora mas já fica com 3 imperdíveis:
Uma receita prática para a fome sem tempo
Da Pri
Desde que aprendi, tenho sempre na geladeira (parece que dura meses). Faça em maior quantidade e deixe num pote. Na hora de usar, coloque água na mesma proporção da mistura ou um pouquinho mais. Unte a frigideira e jogue lá pra ser feliz. Quanto ao recheio, serve qualquer coisa.
Panqueca grão de bico da Mari Marola:
2 xic de farinha grão de bico (no dia que eu não tinha suficiente, substituí por farinha de aveia e de coco)
1 xic de tapioca ou polvilho azedo
1/2 xic de aveia fina
Sal e outras sementes aleatórias
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→ Para ouvir sem as crias
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