Divinas Tretas #9
Newsletter sobre maternidade real. Com dicas do peito do Rio e do mundo. Afinal, nem tudo é treta. Ou é?
Antes de tudo, muito obrigada por estar aqui!
Aviso: tudo que estiver em azul é link (pode clicar).
Antibombas
A cena é clássica: um homem entra vestido com uma roupa de chumbo que deve ser super desconfortável, caminha lentamente, e vai até o dispositivo explosivo para o desativar. Arriscando a própria vida para salvar a de milhares. Quase dá pra sentir a tensão no ar e o único som é a respiração ofegante do sujeito.
Por aqui nunca precisei desarmar uma bomba de verdade, dessas que têm potencial para aniquilar vidas. Mas vivo no meu dia a dia com a sensação de estar sempre precisando escolher entre o fio azul e o vermelho. Qualquer passo em falso pode desencadear uma série de acontecimentos dignos de Hollywood.
É drama, ação, comédia e suspense.
Por vezes queria virar uma super heroína com o poder de derreter e virar uma meleca para sair do quarto sem acordá-la. Dia desses, depois de muita luta pra fazer a cria dormir enquanto mamava, na hora de sair da cama, eu estava totalmente absorta pelo texto na tela do meu celular, me distraí e dei uma cotovelada na cabeça da criança. Tranquei a respiração e pedi pra Deus pra ela não acordar. Não adiantou, chorou, tive que colocar no peito novamente e ficar mais uns 15 minutos ali no escurinho.
Na hora do almoço também acontece um outro tipo de situação bombástica que é quando ela está comendo super bem e por algum descuido eu faço qualquer movimento que interrompa aquele ciclo mágico de colher entrando cheia de comida e saindo vazia daquela boquinha fofa. Tipo levantar pra pegar água e a criança lembrar que quer suco e não tem, acabou. E pronto a bomba explodiu. O choro vem com o grito mais sofrido do mundo, um sofrimento digno de Oscar. E logo em seguida pede pra sair da cadeira e começa a jogar tudo no chão. Às vezes consigo reverter com alguma gracinha que a faça desistir do show, outras dou o almoço por encerrado.
Perco a batalha.
Até onde vai o meu conhecimento, não temos muitas mães que trabalham desarmando bombas de verdade.Uma pena, porque já estamos bem treinadas, viu? Temos total atenção aos detalhes, sabemos quase flutuar, e andamos com trajes pesados (as mochilas com tudo e/ou o próprio bebê). Sem contar o costume de lidar com situações de estresse extremo todos os dias.
Pensando seriamente em fazer concurso pra policia militar, tô pronta.
A treta sobre masturbação feminina e vibradores - Parte II
Muitas das minhas amigas que possuem vibradores não conseguem conversar sobre o seu brinquedo com maridos, pois parte prefere ignorar a existência e outra parte se sente ameaçado.
Meu marido acha uma afronta, dizendo que tal acessório é desnecessário para quem tem um parceiro, inclusive falando com desprezo algumas vezes.
Uma amiga confessou que o marido utiliza como um plus no sexo, mas se recusa a buscar ou encarar o aparelho. Ele fala pra ela: busca lá o seu amigo (quase um inominável).
Essa dificuldade de alguns homens em aceitarem que o prazer feminino não está exclusivamente atrelado a eles ou é algo que podemos fazer sozinhos, diz muito mais sobre eles do que sobre nós.
Quanto mais a gente se toca, mais a gente se entende, entende nosso corpo e nossos desejos e prazeres.
Além disso, é um método barato e acessível que está ao alcance de nossas mãos.
Muitos homens aprendem sobre sexo em uma caixinha de pornô/coito que está bem aquém do prazer feminino.
Os vibradores surgiram para potencializar o prazer em diversas intensidades e formas.
Vibradores são amigos, acreditem rapazes! São grandes aliados do prazer feminino e direta ou indiretamente dos homens também.
Vocês ficariam assustados em saber a quantidade e qualidade de prazer que podem proporcionar a uma mulher utilizando vibradores.
Falar sobre siririca e vibradores e praticar, é importante para saúde biológica, sexual e mental.
Vamos romper esses tabus, colocar na roda, discutir e praticar, incluindo os homens em toda essa dinâmica. O benefício será de todos!
Elas/nós no centro
Te proponho olhar aí na sua casa: dos livros que você tem, quantos foram escritos por mulheres? E dos filmes que você tem/assiste? E dos livros a que sua criança tem acesso?
Tem sido um movimento natural pra mim na última década escolher comprar, consumir e apoiar o trabalho de mulheres (e ganha mais pontos se for mãe) e acredito que isso seja um valor central pras minhas colegas de newsletter também.
Eu sei que muitas das nossas escolhas, as grandes e as do dia a dia, não são realmente nossas, vivendo no mundo da pós verdade e do capitalismo do século XXI muito do que a gente pensa que é opção na real já veio moldado, pré-fabricado pra gente. Mas vamos tentar acreditar que temos um pouco de controle sobre isso, vai.
A cultura é um desses campos em que sinto que temos alguma escolha. Essas escolhas pra mim, na prática significam:
ler autoras, especialmente as jovens e feministas, mas não só;
comprar/emprestar livros infantis protagonizados e/ou escritos por autoras;
assistir filmes dirigidos e/ou roteirizados por mulheres;
escutar podcasts adultos e infantis produzidos por elas;
consumir conteúdo em geral criado por mulheres e mães.
Acredito que ao fazer isso podemos amplificar as vozes umas das outras.
Conhecer mais vivências femininas (cis, trans, lésbicas, negras, asiáticas, latinas, com deficiência, idosas, os recortes são muitos), ainda que não as vivamos na pele, pode ajudar a abrir os olhos pra ganhar empatia.
“A história dela não é a minha mas poderia ser, se eu estivesse lá”, é mais ou menos assim que eu racionalizo.
É um exercício, precisa (cada vez menos, que bom!) pesquisar e sair da bolha do mainstream, da lista dos “mais vendidos”. E pra mim tem sido um caminho sem volta.
Precisa ir além do “ter personagem feminina” (conhece o teste de Bechdel?), pra entender o que essa personagem faz, como ela se relaciona com outros personagens na história.
Afinal a gente já tá de saco cheio de mulheres e garotas clichês né?
Para saber mais:
Ir a museus com crianças
Desde que a rotina normalizou mais com a melhora da pandemia, voltei a fazer uma coisa que senti bastante falta nos últimos anos: frequentar museus e exposições. Antes da pandemia, a Eva já tinha me acompanhado diversas vezes em programas assim, mas agora eu me deparei com uma criança muito maior (Eva tinha pouco mais de um ano e meio quando começou o primeiro lockdown) e com vontades mais consolidadas. Como tivemos essa interrupção forçada na maior parte da nossa programação cultural por tanto tempo, ela não estava mais acostumada a algumas coisas e eu fui redescobrindo como trazer a arte para a nossa rotina de passeios.
Depois de algumas idas a umas exposições interativas e multimídia, fomos para uma mais classicona: Chagall no CCBB. Me programei para não trabalhar numa manhã, fizemos todo um planejamento, almoço já pronto pra dar tempo de ir pra escola depois, aquele esquema. E eu achando que aquelas figuras lúdicas voando com bichos pegariam minha filha.
Cheguei preparada pro sucesso e logo que entramos tudo começou a degringolar.
As salas eram escuras, com focos de luz apenas nos quadros, e muito silenciosas. Que estranhamento! Tentei de um tudo, mas ela odiou cada segundo e acabou que passamos por toda a exposição em papo de 5 minutos de muita gritaria e esperneio. Saímos traumatizados e exaustos, querendo ver tudo na frente menos um quadro.
Para minha própria surpresa, pouco tempo depois desse trauma estávamos nós indo pruma outra exposição nada interativa e bem quadro na parede. Fomos no MASP ver a exposição do Volpi que tava quase no fim e eu sabia que não iríamos voltar a São Paulo novamente enquanto ela estivesse rolando.
Dessa vez, criei uma previsibilidade maior, para evitar frustração. Fui explicando que tipo de coisa ela veria por lá e que tipo de coisa ela não veria: não teria nada pra brincar e jogar, como na exposição sobre a Amazônia que tínhamos visitado no Museu do Amanhã, mas teria muito quadro de bandeirinha de São João.
Chegando, fomos explorando os quadros no ritmo dela. Propus que procurássemos os tons de azul (cor preferida dela) mais bonitos. Perguntei o que ela achava de algumas figuras. Tivemos uma surpresa maravilhosa: havia um quadro imenso de sereia, que ela logo achou parecida com Iemanjá e nele ficamos muito tempo conversando sobre sereias, orixás e elementos do quadro. Tiramos umas selfies também.
Por muitos quadros passamos rápido demais pra que eu pudesse sequer olhar, dos textos curatoriais nas paredes não li nenhuma linha, mas depois da última experiência tenebrosa e depois de ter desembolsado o salgado ingresso do MASP com expectativa de ficar 10 minutos lá dentro, eu tava no lucro. Deu tão certo - dentro das minhas baixíssimas expectativas - que até demos uma passada bônus no acervo permanente!
Depois disso, já tivemos várias outras experiências em museus bem sucedidas e nenhuma outra como a do Chagall. A mais recente foi na recém-inaugurada exposição dos OSGEMEOS no CCBB Rio.
Perfeita para levar as crianças! Linguagem fácil, cores vibrantes, uso de luzes e lantejoulas nos quadros, SUCESSO.
A gente tende a pensar que exposições interativas e cheias de elementos audiovisuais e efeitos mirabolantes são as únicas que vão colar com crianças, mas o contato com outras formas de arte é importante e divertido. Se ainda não tentou por aí, se joga e me conta depois como foi!
Minha treta com organização
Minha mãe era organizada em vários processos. Um que fez parte da minha infância analógica foi o caderninho das fotos. A metodologia era assim: sempre que uma foto era tirada, na primeira oportunidade, a gente anotava a data e ocasião num caderno. E, como você deve saber - se nasceu até início dos anos 90 -, um filme de 36 poses poderia durar uma eternidade, né? Seu argumento era que a gente poderia esquecer quando tinha tirado o retrato. Dessa forma, todas as minhas fotos de criança têm data atrás e estão em álbuns numerados.
Criei muito apreço por essa organização exacerbada, essas pequenas coisas que minha mãe fazia acabaram tomando um sentido muito importante. Nesses primeiros álbuns, por exemplo, têm uma sequência de eventos datadas que vão desde meu primeiro dente, medidas e até quando peguei caxumba.
Além disso, há um enorme acervo de convites de festas infantis aos quais éramos convidadas. Confesso que nunca estranhei isso, até porque cresci vendo esses álbuns. E foi através dessas anotações que pude comparar os meus marcos de desenvolvimento com o dos meus filhos e até saber quando eu andei pela primeira vez. Coisas que se ela estivesse aqui, um simples telefonema teria dado conta.
Mas, a conta não fechou e ela se foi antes de tudo isso acontecer e as mil perguntas que eu deixei pra fazer quando fosse mãe nunca serão respondidas por ela.
Assim, naturalmente, eu reproduzi toda essa metodologia por ela criada, mas agora em modo virtual, inclusive os convites de aniversário em uma pasta criada no Google fotos. Ainda me ressinto porque não consigo organizar tudo, imprimir e fazer álbuns físicos para mostrar a todas as visitas. Quem sabe daqui a uns dez anos as crianças me ajudem, né?
Enfim, tudo isto pra dizer que de alguma maneira eu busco com esses hábitos continuar perpetuando sua existência e nossa conexão, bem como aguardo ansiosa poder contar com mais detalhes sobre minha mãe aos meus filhos, para que eles a possam conhecer mesmo que através de mim.
Na imagem, as fotos que emolduram minha mesa de cabeceira juntamente com a arte de uma grande amiga que bordou:
"as memórias são nossas maiores heranças".
Dicas do Peito!
Com elas (as crias)
Criança na cozinha
Da Catarina
Leve sua cria pra cozinha. Por aqui já deixamos potes de plásticos e outros objetos que não quebram na pia para a Maya lavar a louça. Ela faz a maior bagunça, mas rende uns 15 minutos parada, já que fica na torre. Também coloco para me ajudar a fazer esses biscoitinhos aqui, que ela ama e apelidamos de biscoito da Vovó.
Aquabook
Da Dani
Quando a Ju Sobral (outra divina trereira daqui) contou sobre essa ferramenta eu nem imaginava que era algo tão maravilhoso.
O Aquabook foi inventado por uma mãe, não foi não? Não sei se vocês já ouviram falar nele, mas é um livro de desenhos para pintar que as crias utilizam um pincel com água para fazer aparecerem as pinturas. Genial, prático e sem muita sujeira!
Essa dica eu utilizo em viagens e faz bastante sucesso para quem quer dar um tempinho nas telas. É um brinquedo barato, que tem um ótimo custo benefício e tem em várias lojas virtuais e de brinquedos.
Ebook
Da Ju
Eu sei que as férias escolares já passaram mas dezembro já tá logo ali e pra não correr o risco de não ter ideias do que fazer com as crianças em casa indico aqui o ebook “Férias Brincantes”. Elaborado pela Josi Carrara, uma super mãe que traz atividades divertidas pra crianças maiores de 3 anos com embasamento técnico (a Josi está cursando Psicopedagogia). Usando o corpo, materiais reciclados ou brinquedos que você já tem em casa dá pra se divertir muito com os seus pequenos.
Museu com crianças
Da Marcela
Aproveito o ensejo do meu texto e deixo aqui algumas dicas para tornar mais fácil a sua ida a exposições de arte com crianças:
Previsibilidade: explique de antemão qual o tipo de arte ela verá, contextualize se vai ser quadro, escultura, ou se terá muito aporte multimídia.
Ensine a olhar: incentive que a criança procure cores bonitas ou símbolos interessantes nas imagens expostas. Peça opinião dela sobre o que estão vendo. Incentive que ela conte histórias sobre as obras.
O tempo é dela: vá com poucas expectativas de ver tudo ou ler tudo. Algumas partes serão puladas e outras muito exploradas. Se pra você for importante, vale tirar foto dos textos para ler depois e até de algumas obras que você gostaria de ver por tempo mais longo
Faça fotos de família regularmente
Da Pri
É difícil? Muito! Mas é uma batalha que assumi guerrear porque vale muito a pena ver os pequenos crescendo. Cada vez mais tiramos menos fotos naquela sessão porque eles tocam o terror quanto mais independente vão ficando, mas sempre prezamos por ter pelo menos um ou dois registros bem legais. Essas são as que ficaram ruins. Rs.
Sem elas (as crias)
Marte Um
Da Catarina
Consegui ir ao cinema pela primeira vez, depois da pandemia, semana passada. E indico muito, Marte Um do Gabriel Martins, um filme sensível, com aquela premissa do simples extremamente bem feito. Fala de Brasil e brasileiros, faz rir, chorar e refletir. Torcendo para que seja o nosso representante no Oscar. Vai lá dar essa força pro cinema nacional precisamos fazer a nossa parte pra manter viva essa arte por aqui. Sem contar que foi incrível passar mais de duas horas fazendo algo "só" pra mim.
Falando de moda pé no chão
Da Dani
Desde que a internet era só mato eu lia o blog da maravilhosa Ana Soares, que falava sobre moda, cheio de personalidade. Hoje o perfil dela no Instagram @modapenochao traz mais que moda, continua cheio de personalidade e discute temas muito bacanas como: maternidade pós 40, desconstrução da ditadura da moda, mudança capilar e aceitação dos cabelos brancos e uniformes manchados. Sigam e compartilhem com mais mulheres maravilhosas por aí.
Apps
Da Ju
Duas dicas de apps pra quem quer esvaziar um pouco a cabeça com meditações guiadas:
Vegetais verdes escuros
Da Marcela
Uma coisa que me fez aumentar exponencialmente a quantidade de folhas verdes escuros que consumo foi passar a congelá-las. Antes disso, com frequência perdia as que comprava porque elas duram pouco e amarelavam antes de eu usar. Agora compro e logo que chego em casa processo: lavo, corto e coloco em saquinhos na porção que vou usar. Couves cortadas já fininha pra couve a mineira, ou em pedaços maiores para cozidos, espinafres já soltos do caule, almeirão roxo, taioba, até acelga dá pra congelar. É só tirar e jogar na panela, sem descongelar antes. Ah, e ter espinafre é um ótimo curinga! Dá pra acrescentar em mil receitas e dá aquele extra nutricional.
Procure saber a história da sua família
Da Pri
Eu sempre me interessei demais pelas narrativas familiares, mas com a morte da minha mãe, fiquei ainda mais curiosa e atenta em capturar estes registros, porque tudo que sabia vinha dela e as pessoas ainda vivas já estavam muito velhas. E, assim, promovi uma verdadeira "caravana" à casa da minha tia-bisavó, a pessoa mais antiga da família. Ouvi tanta história e houve uma identificação absurda com as mulheres da família! Foi um dia incrível. Simples e incrível. Eu estava grávida e tudo se tornou muito mais especial por isso. Recuperei fotos e dei nome a pessoas .
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Envia para divinastrestasrj@gmail.com respondemos assim que der.
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