Salve, salve, divina comunidade!
Estamos de volta! Dizem que o ano só começa após o Carnaval, mas fizemos um esforço e cá estamos com nossas reflexões. Esse mês, abordamos temas leeeeves, leviiiiinhos, como a relação de mãe e filha adultas, as expectativas que as famílias colocam sobre os filhos de serem eles o que faltavam para uma plena felicidade, sobre causar traumas em filhos e sobre o tempo de lazer que uma mulher e mãe tem direito a ter.
Leia e reflita tudo isso com a gente. E compartilha nos comentários seus insights pra gente sentir que não estamos sozinhas nesse barco louco que é criar seres humanos sem se esquecer de quem somos.
Boa leitura!
A minha mãe não é mamãe
Fernanda Torres está em alta, tão em alta que, no clube do livro, um podcast com uma entrevista dela do ano passado está sendo reouvido e rediscutido. Na internet, memes da Vani (sua personagem de décadas atrás) estão viralizando. Tudo isso porque ela concorre ao Oscar de melhor atriz, pelo filme que também disputa o prêmio principal: Ainda Estou Aqui.
Queremos ouvi-la, saber mais dessa atriz quase mitológica, que chegou a um ponto da carreira alcançado por poucos aqui no Brasil. Curiosamente, um desses poucos é sua mãe, que também já foi indicada ao Oscar. E a Fernanda, sempre se refere a Fernandona como: mamãe. Quando escuto um adulto falando assim, logo penso: essa pessoa é mimada. Me bate uma pontinha de inveja, como se aquela relação fosse mais afetuosa que a minha. Como se aquela filha tivesse conseguido manter acesa uma chama da infância que, com o tempo, tende a se apagar. Sabe aquela admiração imaculada que sentimos pelos nossos pais (quando os dois estão presentes e tal).
Por que será que a maioria dos adultos que conheço não fala mamãe ou papai? No filme os filhos da Eunice Paiva, já quase adolescentes, ainda chamam os pais da mesma maneira de quando eram pequenos. Seria esse um traço das famílias ricas da zona sul do Rio de Janeiro? Acho que vai além.
Lá no meu rincão (o interior do Paraná), praticamente ninguém mantém essa forma de tratamento com os pais depois de adulto. E porque diabos eu implico com isso? De onde veio essa ideia de que adultos não falam ou não devem falar mamãe?
Fui criada para acreditar que ser feliz o tempo todo era errado. Lembro bem da dicotomia entre os meus pais, ele, sempre rindo à toa, e minha mãe, sempre tensa com aquela alegria desmedida. A regra era clara, quanto maior a bagunça, maior a bronca. A vida não podia ser só festa. Cresci assim e, do nada, nem lembro quando, a minha mamãe virou apenas "mãe". E foi generalizado, todos os meus amigos seguiram essa mudança, quase que um rito de passagem pra vida adulta. Que bobagem a nossa.
E eu? O que serei quando minhas filhas crescerem? Queria dizer que continuarei mamãe, mas se hoje com uma filha de 4 anos, já não sou, imagina no futuro. Por aqui também tenho outros apelidos carinhosos, tipo mamita ou mami. "Mãezinha" está proibido. Os profissionais de saúde acabaram com essa palavra para mim. Quer meu ódio? Me chame de mãezinha.
Talvez, quando eu virar a vovó, volte a ser chamada de mamãe. Será que foi assim com as Fernandas? Nunca houve um tempo apenas de mãe entre elas? Será que ela grita no almoço de domingo: - Vem comer mamãe, tá na mesa? Vai saber.
Enfim, enquanto Oscar não chega (oi Deus, o Brasil aguarda um milagre), sigo sendo a mãe em tempo quase integral – e atenta pra também ser a mamãe, ainda que seja só quando eu falo de mim mesma: - Vem filhinha, a mamãe fez brownie. Mentira, eu falo: -Vem filha. Quem fala filinha? Ai não…
A parte que falta(va)
É um lugar comum que costumo perceber o da mãe ou pai que faz a seguinte declaração sobre o segundo filho: “era a peça que faltava na nossa família e a gente nem sabia”. E, como recentemente, entrei na fila do clube das mães de múltiplos, esse conceito apareceu mais uma vez pra mim, agora do lado “de cá”. Em uma das muitas conversas com as Divinas sobre os mais variados assuntos, nesse caso troquei uma ideia com a Marcela sobre o quanto eu concordo e ao mesmo tempo me incomodo com essa frase dita com tanta facilidade por aí. Ainda não cheguei a nenhuma conclusão (nem sei se um dia chego) mas vamos de pensamentos soltos…
Acredito que seja verdadeiro esse sentimento de “agora sim, família completa”. Vejo que muitas dinâmicas familiares são enriquecidas quando a família é maior. As crianças que crescem com irmãos têm a possibilidade de enfrentar mais desafios interpessoais logo no início da vida e podem adquirir habilidades que os filhos únicos demorariam ou nem teriam chance de viver. Mais gente em casa pode sim significar mais amor, mais cooperação, mais chances de viver momentos felizes. Dá mais trabalho sim, mas também acho que em outros momentos possa facilitar (ainda não sei quais, mas me deixa sonhar kkk).
Também acho que deva dar essa sensação de “boa” no sentido de tirar do filho único o foco de tudo que acontece. Penso nisso sob uma ótica positiva: as atenções de certa forma divididas abrem espaço pra individualidades aflorarem sem que ninguém perceba ou interfira. Pais com atenção dividida seriam menos “microgerentes” da vida dos filhos.
Mas falando agora enquanto filha mais velha, sinto um grande incômodo com essa ideia de insuficiência que se atribui ao primogênito. Se faltava uma peça, então quer dizer que o desenho desse quebra-cabeça não estava completo, é isso? Não estava bom o suficiente com a presença dessa pessoa, inteira como ela é? Sinceramente, em certo ponto até me ofende. Acredito que cada pessoa é completa em si e colocar o filho como alguém que vem pra suprir alguma coisa daquele núcleo é de certa forma dizer pro que chegou primeiro “boa tentativa mas vamos tentar fazer melhor agora”.
E como eu falei lá no começo, não tenho resposta pronta, só muitos pensamentos soltos, aqui vai mais um, a partir da experiência de voltar a ser filha única depois de adulta: realmente aquela partezinha faz falta. As dinâmicas familiares vão se estabelecendo ao longo da vida de uma tal forma que cada filho adquire um papel dentro da família, cada um se relaciona de forma diferente com os pais. E, ao perdermos um integrante da trupe, o papel daquele artista fica vago, mas o show da vida vai ter que continuar: o malabarista pode até tentar fazer mágica, mas não vai ter a mesma graça.
Status quo
Se tem uma coisa que me marcou demais nessa vida pós casamento/maternidade/ambos foi realmente o quanto eu virei um off topic de mim mesma.
Num flerte um cara virou pra mim e perguntou: qual seu hobby?
No mesmo momento, me senti na abertura da novela Avenida Brasil, onde tudo parou e eu pensei: hobby?
Mãe tem hobby? É permitido a nós mulheres termos hobbies? E as mães?
Fiquei pensando nos homens que conheço que tem seus dias sagrados de futebol, feira de carro programadas, saída com amigos…diversas coisas que ai de você, esposa, mexer com esse momento de desopilação.
Quantas de nós gostaríamos de ter momentos assim, mas não nos permitimos porque simplesmente nem achamos tão necessário fazer algo sem a nossa família (ou sentimos culpadas). Mas é.
Essa postagem do Planeta Ella traduziu bem esse sentimento quando recebi a pergunta:
As mulheres têm momentos de lazer. Às vezes as gente lê um livro, vê uma série, mas é tudo devidamente encaixadinho de modo a não mudar o status quo da casa. Se a cria tiver alimentada, casa arrumada, e tudo como deve estar, aí sim você pode se divertir, gatinha.
Mas volta logo, e não fica achando que toda semana você vai ter essa folga não.
Até porque, o que você vai responder para as pessoas quando perguntarem cadê o seu filho?
Hobbies requerem disponibilidade, regularidade, tempo, o que é difícil para mulheres e mães.
Às vezes deixar tudo da maneira como precisa estar vai dar tanto trabalho pra a gente, que a desistência de fazer algo parece quase que a única opção.
Comecei a pensar que preciso de um futebol semanal, um barzinho com amigas ou alguma regularidade de algo que me faça também desopilar.
Agora, divorciada, o status quo é de uma casa sem crias por alguns dias, o que é um ambiente perfeito para um hobby, seja novo ou antigo.
Minhas férias começaram
Finalmente acabaram as férias escolares. Essas pareceram uma eternidade. Senti que vivi umas 3 vidas de dezembro pra cá. Voltamos às aulas, dessa vez com um desafio novo: trocamos as crianças de escola. Primeira semana na escola nova e foi tudo certo - “certo”, né, o mais novo chorando pra entrar, mas a professora assegurando que ele fica ótimo no restante do dia, só que em casa ele diz preferir a escola anterior e chega vociferar coisas péssimas como “por que você foi me colocar nessa escola CHATA? Eu quero ir pra outra escola” e afins, que me enchem de culpa e preocupação.
Cheguei à conclusão que todas as decisões que tomamos para a vida de um filho vêm com um teor de trauma, mesmo as melhores, as mais acertadas.
No fim, é você, um ser humano errante, decidindo algo fundamental para a vida de outro ser humano em plena construção da sua subjetividade. Essa construção será altamente impactada pelas mudanças que esse ser humano passará na sua vida, principalmente quando a mudança em foco é algo tão fundamental pra rotina da criança quanto a escola que ele frequenta.
Escola: esse ambiente onde eles aprendem, fazem amizades, se descobrem como seres separados dos seus pais, criam uma vida só deles além das fronteiras da casa e da família. Eu adoro escola. Acho imprescindível que uma criança vá à escola, não somente pelo aprendizado em si, e sim por tudo mais que envolve estar em sociedade.
Nunca consegui entender os homeschoolers. Acho todos uns fanáticos que querem preservar seus filhos em suas bolhas bitoladas e sabem do risco que correm caso a criança descubra que existe mais mundo do que aquele que está sendo apresentado ali na rotina doméstica. Aliás, esse é um dos papéis mais importantes da escola: relativizar o papel central da família. Mostrar que existem outros mundos, outras opiniões políticas, outros discursos que não o dos pais. Propiciar que aquele sujeito pense criticamente e descubra seus próprios caminhos, que não necessariamente vão ser os ofertados pela família.
Mas devo dizer que também nunca entendi os homeschoolers porque a escola é uma mão na roda pros pais. Um respiro. Uma forma de você conseguir minimamente dar conta de seus assuntos de adulto. Sim, todo mundo que vira mãe ou pai logo descobre que ir trabalhar é que é dia off. Fim de semana é labuta. Férias servem pra gente se cansar e precisar da rotina pra descansar da falta de rotina que você viveu por tantos dias.
Como aquela galera que tem plurifilhos (e bote pluri nisso, são 8, 10, 12 filhos, meu deus, como procriam, esses homeschoolers) dá conta de ensinar as crianças das mais variadas idades os mais diversos conteúdos? Isso além dos afazeres domésticos (supondo que essas mulheres em sua maioria não trabalhem, a não ser em seus blogs sobre como manter uma casa perfeita com inspirações de 1800). E como lidam com o fato de terem sempre as crianças em casa? Sempre! Todo dia, o dia todo. Eu sei que eu não dou. Que sorte que gosto de escola.
😉 Dicas do Peito!
Aprendendo sobre o universo
Da JuDesde que voltei ao presencial full time em agosto e logo depois peguei barriga, me vi sem paciência/energia pra ler junto com o Tutu a noite e esse hábito que nos acompanhou por anos ficou totalmente de lado. Mas recentemente, meio que tomada pelo descanso das férias e um pouco de culpa materna pelo tanto de tela que ele consumiu nesse período, resolvi retomar. Peguei o primeiro volume da série “O grande universo de Oliver” e a gente se divertiu muito na leitura. E tá lançando o segundo da série aqui no Brasil, “O grande universo de Oliver: Vulcões são um estouro!”, que a gente já recebeu da Editora pra conhecer.
Segundo a Rocco, “a série que faz você morrer de rir e alimenta o seu cérebro com um monte de curiosidades científicas maneiríssimas! Perfeito para fãs de Diário de um banana e As aventuras de Mike.” e eu concordo.Mais coragem, por favor
Da Ju
Já cansei de falar aqui na DT sobre coragem e medo, vocês sabem né? Então por isso mesmo, já que esses temas me (per)seguem que me adiantei e comprei na pré-venda o livro “Para todas as mulheres que não têm coragem” da Dani Arrais. Mal chegou e já comecei a ler e sublinhar um tanto de trecho. Recomendo!
Do release da editora: “Em Para todas as mulheres que não têm coragem, a jornalista e uma das criadoras da Contente.vc Daniela Arrais traz um relato sincero sobre o fenômeno da impostora e faz um chamado à coragem para que mais mulheres se sintam protagonistas da própria história.”Dica de Instagram com reflexões incríveis
Da Dani
Para quem gosta de reflexões feministas e inteligentes, vale a pena seguir a Milly Lacombe. Colunista da folha, escritora, feminista, ela sempre tem críticas fodas sobre os acontecimentos da atualidade. Vale a pena:
Série - Vinagre de Maçã
Da Catarina
Eu vi quase de uma tacada só essa minissérie baseada em uma mentira real. Ela é pesada, fala sobre doença, morte, aborto e negacionismo. Queria obrigar o grupo do zap a assistir, rsrs. Aquele grupo que tem sempre alguém mandando uma cura milagrosa pra qualquer coisa, sabe? A série conta a história real de uma influenciadora australiana que mentiu para ganhar seguidores. Vale demais a reflexão, o assunto é sério e está longe de ser resolvido; pelo contrário, parece que só piora. Está na Netflix.
Peça O Céu da Língua
Por Marcela
Esse mês estreou a peça O Céu da Língua, do Gregório Duvivier, aqui no Rio. A peça é uma reflexão divertida e inteligente sobre a nossa língua, esse português brasileiro tão rico, confuso e maravilhoso. A temporada é curtinha, então não demore a ir! E o site dá bug fazendo parecer que todas as sessões estão esgotadas, mas é só um bug - tente do computador.
Até dia 23 de fevereiro, no teatro Carlos Gomes.
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