Divinas Tretas #4
Sobre o sorriso que não paga tudo e a conta que não fecha. Dicas do peito do Rio e do mundo. Afinal, nem tudo é treta. Ou é?
Antes de tudo, muito obrigada por estar aqui!
Aviso: tudo que estiver em azul é link (pode clicar).
Minha treta com a sinceridade
Eu sei lá porquê eu vim numa junção complicada entre uma mulher barraqueira e um cara sem noção e mandão. Peguei a imperatividade de um e a explosão de não levar desaforo pra casa da outra. Uma coisa também proveniente dessa união foi justamente a minha sinceridade, digamos que, agressiva. Não basta falar a verdade, tem que lacrar. Sempre pareceu isso, apesar de não ser bem assim o que se passa na minha cabeça desde a concepção da mensagem até o momento em que ela sai da minha boca.
Os mais pacientes e de bom coração conseguem superar o choque à primeira vista e me vêem para além do mar barulhento que ressoa do lado de fora. Por outro lado, mesmo que reconhecendo a necessidade de aprimorar meu domínio da "fala social", continuei buscando nesse possível dizer a verdade. E isso inclui quase sempre responder honestamente a pergunta: "tá tudo bem?"
Pode procurar nas minhas mensagens. Dificilmente elas serão: "tá, e vc?"
Digo tudo isso pra relembrar que num dos piores momentos da minha vida, as pessoas em geral, ainda que inconscientemente, esperavam que o desconforto de responder a questão fosse minha, sabe? Depois de uma perda gestacional e da morte da minha mãe, tudo quase ao mesmo tempo, era difícil para os outros lidarem com o meu "não, não tô bem mesmo, tô bem mal".
E com o tempo passando, todos esperavam que tudo voltasse à normalidade. E eu me recusava normalizar o luto e invisibilizá-lo. Isso incomodou. Isso desestabilizou o "só fiz uma pergunta retórica. Sem problematizar, por favor." Enfim, eu sempre digo pra não esconder o que tá acontecendo. Ainda estou aprendendo, mas, definitivamente, não espere de mim respostas simplificadas caso seja minha amiga.
A treta das boas maneiras com a Inteligência Artificial
Desde que tivemos em nossas mãos de mãe e pai a responsabilidade de educar um ser humano pra vida em sociedade nos preocupamos em ensiná-lo a respeitar a si mesmo e aos que o rodeiam. Um item importante é o uso de palavras e expressões cordiais uns com os outros, incluindo o bebê, desde recém-nascido. Eu sei que pra alguns adultos pode parecer estranho dizer por favor, obrigado e com licença para um bebezinho ao interagir com ele, mas lembremos que é no exemplo que a gente educa. Crianças são excelentes observadoras e péssimas intérpretes, já dizia o psiquiatra e educador Rudolf Dreikurs.
É usando no dia a dia essas “palavrinhas mágicas” que ensinamos à criança os momentos adequados de usá-las e as maravilhas que elas podem fazer nas interações humanas.
Novos tempos trazem novos desafios, e na maternidade essa máxima também se aplica, especialmente quando entra em cena uma caixinha de som que responde o que a gente pergunta. Que faz o que a gente pede e tem uma voz feminina, simpática e dócil? Uma pesquisa de 2019 da Unesco mostrou que essas “mulheres” virtuais também sofrem com assédios e agressões, assim como as mulheres reais. Tendo conhecimento disso, nós como pais decidimos estender também à Alexa o tipo de tratamento que gostaríamos que nosso filho dispensasse às mulheres (e todes) na vida real.
E assim pode-se ouvir, na nossa casa, “Alexa, bom dia”, “Alexa, toca minha playlist por favor”, “Alexa, obrigada! Tchau”.
É engraçado? É, pois ainda é estranho e pouco usual, mas pensando num futuro não tão distante em que nossas interações com as inteligências artificiais são cada vez mais frequentes sentimos que é uma escolha necessária na educação.
Tem um pêlo branco na minha calcinha
Era para ser só uma primeira sessão de depilação à laser, até que a profissional responsável pergunta:
⁃ Como você quer a depilação da virilha? Vai tirar tudo?
⁃ Não, não…senão fico parecendo uma menininha.
⁃ Mas é porque daqui a pouco já nascerão mais fios brancos.
⁃ E o que que tem? Mulher com mais de 40 anos tem pelos brancos mesmo.
Mesmo eu que havia feito botox e gastando horas e muita grana com skincare, comecei a pensar em que mundo que não é mais permitido pelos pubianos brancos.
Nunca vi essa como questão masculina e fiquei pensando: Por que nós mulheres temos determinadas preocupações estéticas?
Já tinha visto o preconceito com cabelos brancos (embora saiba que estamos em um movimento cada vez mais crescente de mulheres que têm assumido seus cabelos brancos), mas pêlos pubianos? O que tem demais neles se o acesso é tão restrito?
Fiquei pensando a que custo as mulheres que se recusam a ter pelos pubianos brancos se submeteriam: elas preferiam parecer com meninas de menos de 14 anos e não ter pelo algum, a assumir sua idade na genitália.
Não sei o que me causou mais estranheza: a proposta e justificativa em me deixar máquina zero ou o fato dela me falar tão naturalmente que eu não deveria aceitar meus cabelinhos brancos.
Essa nossa negação do envelhecimento estava indo longe demais e onde nunca imaginei que ela fosse chegar: dentro da minha calcinha.
Qual folha?
Favor enviar folhas na mochila. Já era tarde da noite quando minha irmã leu este aviso da creche na agenda. Só estava ela e o meu sobrinho em casa, na época ele tinha 3 anos. Ela o pegou no colo, deu uma bufada e pensou: “que saco, lá vou eu catar folhas na rua.”
Eles foram, ela pegou algumas folhas secas no chão, colocou em um saquinho zip lock e mandou junto da mochila.
No dia seguinte, na hora de pegar o meu sobrinho, a professora discretamente falou:
-Esquecemos de especificar que eram folhas de papel almaço.
Minha irmã virou um tomate, segurou o riso e saiu. Quando ela me contou essa história, eu chorei de rir. Imagino a equipe da creche se dando conta da confusão que a mãe fez.
Mas hoje entendo totalmente o erro. Mães vivem cansadas. Final do dia por aqui, eu sinto meu corpo do mesmo jeito que sentia depois de passar a madrugada toda na balada (não sei como já fiz isso), tirando o cheiro de cigarro e a possível ressaca de álcool.
Além de estarmos sempre atropeladas, as escolinhas também mandam pedidos bem inusitados.
No começo deste ano, pediram pra mandarmos três livros para o clube do livro. E mandaram três livros como exemplo para o tipo de livro que eles esperavam receber. O que eu fiz?
Comprei exatamente os três livros que eles mandaram de exemplo. Depois que o tal clube do livro começou é que fui entender que cada criança iria escolher um livro e levar pra casa, para ler com os pais nos finais de semana, portanto não faria o menor sentido todo mundo mandar os mesmo livros. Mas porque não escreveram isso de forma clara? Não sei, vai ver até escreveram e eu simplesmente não vi.
Pra sorte da turminha dela, fui a única mãe a cometer esse equívoco. Então deu tudo certo e eu não atrapalhei o primeiro clube do livro da minha pequena leitora.
Não sei quantas vezes já me enganei com coisas óbvias pra quem pedia mas estranhas pra mim. Quando falo que sou mãe de primeira viagem é porque eu realmente não sei a maioria das coisas, e depois que o filho nasce, nós estamos cansadas demais pra aprender.
Ah! E vamos combinar que hoje em dia é mais fácil pegar folha seca na rua do que comprar folha de papel almaço.
E você já teve o seu momento folha do que? Conta pra gente por email.
Filha de peixe
O impacto da maternidade na vida profissional é um baque enorme pra qualquer mulher, seja ela assalariada, autônoma, empresária, funcionária pública, o que for. Afinal, maternar é um trabalho não pago, mas não vamos entrar nessa treta agora, né?
Eu, como dona de uma pequena empresa, estou há 4 anos adaptando minha maternidade à minha vida profissional. Minha primeira filha ia pro trabalho comigo desde o comecinho mas, com o passar dos anos e com a empresa ganhando autonomia da minha presença diária, com o nascimento do segundo filho e com a escola, minha mais velha foi parando de frequentar nossa fábrica de kombucha.
Mas outro dia desses surgiu a necessidade de irmos com ela para algumas horinhas de trabalho. Anunciamos o programa e ela negou veementemente a ideia, como já era de se esperar dessa mini humana já tão dotada de certezas e vontades. Argumentos a favor eu tinha vários, afinal minha empresa é super familiar e estaríamos lá com o papai, a vovó e a titia, além, é claro, do irmão e priminho bebês.
Como você pode imaginar, meus argumentos não deram em lugar nenhum e cá estávamos nós, com uma necessidade e um impedimento para lidar. Foi aí que lembrei de quando eu era da idade da Eva. Eu também sou filha de um pai que tinha seu próprio negócio.
Lembro de quando eu e minha irmã íamos na primeira empresa do meu pai. Lá tinha uma gaveta que sempre escondia um pacote daquelas balas Soft, que eram conhecidas por provocarem engasgos graves nas crianças dos anos 80/90. Minha mãe pirava quando sabia que meu pai tinha dado delas pra gente! Mas era uma batalha perdida: já sabíamos onde ele guardava e íamos direto em cima.
E lá tinha sempre o computador mais moderno porque meu pai sempre foi high-tech que incrível que era aquele 286! Logo o computador da empresa passou a virar o point mais concorrido entre mim e minha irmã - concorrência essa que eu, como caçula, quase sempre perdia. E os papeis de impressora, unidos um no outro com aquela fita com furinhos dos lados, tão bons de destacar? Eram ótimos para desenhar. E ainda rolava de brincar com as pipetas que meu pai tinha aos montes - a empresa era de produtos químicos.
Fui contando minhas memórias de quando era eu na situação da Eva e aos poucos ela foi se convencendo de ir. No fim, acabou até empolgada e foi amarradona. Quis que o evento só deixasse memórias positivas para ela querer voltar sem marras e levei um tablet e uma caixa de amanditas para ela usar e comer sem limites (me julguem - só não me contem). Foi tudo ótimo e depois disso ela já voltou outras vezes, sem implicar mais com a ida.
E disso tudo quem tirou muita coisa fui eu. Primeiro pensei em como dá trabalho fazer as coisas com filhos. Como temos que nos reinventar todos os dias. Como às vezes temos que batalhar para fazer coisas tão corriqueiras quanto estar no trabalho um dia normal.
Mas principalmente pensei também em como, ao criar filhos, a gente precisa se conectar com a criança que fomos um dia. Nos deparar com nossas memórias, nossas alegrias e nossas mágoas de infância. Fiquei pensando no meu pai, um jovem adulto penando num país de economia acabada - isso tudo foi antes do plano real, atente - fazendo de um tudo para trabalhar e ser um pai presente, correndo atrás como podia, fazendo o possível. E como aquilo tudo reverberou positivamente em nós, como criou memórias tão legais que agora eu, quase 30 anos depois, repasso todas elas pra minha filha. Espero que daqui a 30 anos meus filhos também possam olhar pra trás e reconhecer que tentamos como podíamos e nesse caminho criamos juntos memórias mais valiosas que qualquer emprego.
Dicas do Peito!
Com elas (as crias)
Treta da Lancheira
Da Dani
Quando minha filha começou a ter que levar lanche pra escola foi uma treta real pra mim.Nunca fui super radical na alimentação dela, mas sempre achei um pouco demais aquele monte de lanche cheio de porcaria que comumente estão nas lancheiras escolares.
Tenho lembrança do quanto eu odiava levar lanches super saudáveis e às vezes eu trocava por um biscoito amarelo cheião de corante.
Hoje, com 11 anos ela leva uma lancheira saudável, que ela curte ao longo da semana e com a recompensa do dia da besteira na sexta-feira.
Algumas dicas que eu posso dar, pode ser que funcione aí também:
O dia da besteira pode ser aquele dia que seu filho vai comer o que todos os outros comem todo dia. Achei importante que existisse não só como um dia para desopilar, mas também para ele se sentir pertence do universo infantil das outras lancheiras.
- O cardápio eu pesquisei em alguns sites umas ideias que são saudáveis e podem ser bacanas de levar: pipoca, pãozinho, espetinho de tomate cereja com queijinho.
- Fazer algumas coisas com o filho em um dia do final de semana para levar durante a semana também pode ser uma ótima! Bolinho, biscoitinhos ficam mais apetitosos quando são feitos por eles.
- Enfeitinhos mil, guardanapos bonitinhos e potinhos fofos ainda fazem parte da lancheira da mais velha. Abrir a lancheira e ver algo divertido e fofo é um grande must, que às vezes vem também com um bilhete fofo de bom dia.
A lancheira do seu filho também é uma treta? Tem um monte de instagram com receitinhas e dicas ótimas para se inspirar:
@comidinhasdadiana @sosvegan @vemcomtheo @lanchinhos @lancheira_divertida
Passeio de metrô e vlt
Da Marcela
O legal de criança é que as vezes a coisa mais mundana pra você pra ela é a coisa mais incrível. Andar de diferentes meios de transporte é uma delas. Se seu filho não usa metrô e vlt na sua rotina habitual, tire um dia pra fazer um programa que envolva uma andada. Aqui, fomos ver uma exposição no Museu do Amanhã de metrô e vlt e, acredite, o caminho pra lá foi tão interessante ou até mais que o museu em si. O passeio rende muitas conversas sobre como funcionam os meios de transporte, sobre partes da cidade, história, geografia e mais uma infinidade de temas. Pra minha filha de 4 anos foi sucesso!
Meu canguru ergonômico
Da Pri
Outra maravilha facilitadora dos dias em que a criança não quer desgrudar é o canguru. Se liga nos modelos porque a perninha do bebê precisa ficar em M para não sobrecarregar a bacia. A maioria permite que a cria também fique nas costas, acho até melhor pra coluna, vira uma mochila humana. Consigo fazer quase tudo, desde cozinhar a colocar roupa na corda. Claro que seria bem menos impactante pras minhas costas se eles aceitassem ficar brincando sozinhos enquanto eu dou conta de alguns afazeres, mas em não sendo possível, prefiro realizar estas atividades com eles acordados para ganhar um tempinho de paz na hora que dormem. Inclua no seu enxoval, você não vai se arrepender. Por aqui, as sonecas também são iniciadas no canguru e depois vão pra cama.
Fazendinha com café
Da Catarina
Voltando para o papo do espaço kids na estrada, lembrei desse lugar super gostoso pra fazer uma parada pra quem vai ou volta da região dos lagos. É o Engenho do Castelo. Você pode tomar um café enquanto a criança brinca em uma mini fazendinha. Adoramos ver os bichinhos e esticar as pernas antes de voltar pro carro. Fica na Via Lagos KM 17. Um pouco antes da praça do pedágio, no sentido Rio - Região dos Lagos.
Biblioteca Parque
Da Ju
Um refúgio no meio do vuco-vuco da SAARA, a Biblioteca Parque Estadual tem um cantinho especial pras crianças. Mesinhas baixas, mini arquibancadas, espaço atapetado são alguns dos ambientes que acolhem os mini-leitores, que adoram ler, folhear, escutar boas histórias com liberdade de movimento. Brinquedos também ficam à disposição. O funcionamento é de segunda a sexta, de 10h às 17h e a entrada é pela Av Pres Vargas 1261, bem do ladinho do Campo de Santana.
Sem elas (as crias)
Se candidate mulher!
Da Dani
A dica de hoje é sobre um movimento que conheci na pandemia e que vi crescendo nesse período e ocupando um espaço incrível: Se candidate mulher!
Trata-se de uma organização que tem por objetivo incluir mulheres no mercado de trabalho aumentando a representatividade feminina em seus quadros e consequentemente equidade de gênero dentro das organizações.
A organização tem parceria com diversas empresas e qualifica mulheres para ocupar diversos cargos, com ações desde a qualificação dessas mulheres para fazer um currículo, manejar o Linkedin, até a fase de recrutamento e seleção.
Vale a pena conferir, apoiar e se juntar ao movimento, caso necessário!
Meu moedor de café
Da Pri
Depois que fiz a transição para o café sem açúcar há mais de dez anos - na verdade, açúcar zero em tudo que já não contém açúcar -, veio a maior transformação do meu cotidiano: o café moído na hora. A rotina atual tem deixado esse momento caótico porque eu sempre gostei do processo, sabe? - quase que fumar um cigarro olhando pro nada. No entanto, por isso mesmo, o gosto do café fresco e seus óleos essenciais podem contribuir positivamente para aguentar o tranco.
Fabro
Da Marcela
Para quem curte um bom pão, vinho natural e uns bons drinks, a pedida é conhecer a Fabro Padaria, que fica no Open Mall, na Barra. Confesso que demorei a conhecer o local justamente por ser na Barra, mas ó, eles fazem valer o deslocamento com louvor. Recentemente eles aumentaram de tamanho, comportando mais mesas e abrigando uma variedade ainda maior de delícias no menu. Ah, e é numa área aberta deliciosa pra se ir com crianças também!
Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo
Da Catarina
Muita gente falando sobre esse filme que tava no cinema e já chegou no streaming, dá pra alugar no amazon prime, google ou apple tv. Tudo em todo lugar ao mesmo tempo é sobre multiverso, e aborda o tema de um jeito mais acessível e humano, por assim dizer, se comparado às grandes produções da Disney/Marvel.
Eu adorei, quero ver mais vezes (não sei quando) e tem uma mensagem linda. Uma história cabeça, pesada e gostosinha ao mesmo tempo.
Eu me vejo
Da Ju
Há umas semanas falei do processo de me redescobrir, e uma parte importante dele foi passar pelo ensaio fotográfico “Eu me vejo”, com a dupla formada pela fotógrafa Paula Giolito e a maquiadora e stylist Aline Massa, duas mulheres que eu me orgulho de chamar de amigas. Todo o processo, dos primeiros contatos, ao dia da foto (quanto cuidado delas comigo!) até chegar ao link com as fotos selecionadas foi incrível! Ter umas horinhas sozinha, pra me sentir, me olhar e me libertar pra ser as múltiplas mulheres que eu sou, foi demais! Recomendo ;-)
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Ai quantas lembranças da impressora matricial!! que nostalgia hahhahahahah