Divinas Tretas #47
Newsletter carioca sobre maternidade, mulheres e muito mais. Com dicas do peito para fazer com as crias e sem elas
Olá, Divinas!
Às vésperas de mais um dia das mães, que é todo dia - pra não perder a piada - decidimos falar sobre maternidade e sexualidade. Com nossos limites morais e tabus internos, escrevemos como uma forma de também nos liberarmos dessas preocupações, nos incentivando a falar mais e dar vazão às vozes não só das nossas cabeças, mas de tantas mulheres mães que estão nessa com a gente.
Porque sim, viemos de uma geração que internalizou vergonhas, moralidades e sensos do normal muito longe do que hoje entendemos como verdade para nós mulheres.
Por isso, você vai encontrar aqui reflexões sobre o que falar com as amigas e com as/os parceiras/os, se mãe é também uma mulher sexual, a influência positiva e negativa de séries, como uma mulher preta enfrenta os dilemas do racismo estrutural em seu próprio corpo e em seus afetos e, a cereja do bolo: uma convidada super especial que introduz essa cartinha explicando sobre as imposições da sociedade as mães no que diz respeito a nossa sexualidade e nos impulsionando a nos libertar delas para encontrar nossa própria autonomia sexual.
Ah! E mais as dicas com e sem as crias como sempre!
*
Não podemos deixar, contudo, de nos sensibilizar com a grande tragédia que está ocorrendo no Rio Grande do Sul. Deixamos aqui esta postagem que traz muitas formas de contribuir e sugerimos seguir estes dois perfis de amigas e mães queridíssimas que moram no Sul do país e que em seus stories estão discutindo muito sobre racismo ambiental:
- Comida Saudável pra todos, da Juliana Gomes
- Bruna Crioula, da Bruna de Oliveira
Aliás, você sabe o que significa o termo? Essas meninas aí vão te ensinar e muito!
Boa leitura, diviners!
Sem libido (não) é a mãe.
Ana Sharp é professora, educadora sexual e feminista. Há mais de 20 anos atua em movimentos de mulheres, realizando cursos, oficinas e palestras nos mais diversos contextos. É uma das co-fundadora da Caos.a - Educação Sexual e Outros Direitos.
A sexualidade, por conceito, são as vivências e experiências do corpo sexuado. E dependendo de que corpo é esse, essas vivências e experiências se dão em processos bem distintos, em diversos aspectos.
Se for o corpo de uma mulher, desde antes do nascimento, com os famigerados chás de revelação, essas experiências são controladas, moldadas e restritas à uma série de expectativas e normas sociais que tem como base o pensamento machista e patriarcal. O corpo de uma mulher é um campo de batalhas estéticas, comportamentais, e de função, na qual a maior trincheira é o sexo e sua liberdade - ou falta de - sexual.
Ao mesmo tempo em que somos incentivadas a nos hipersexualizar, e educadas para agradar ao olhar masculino com padrões de beleza inalcançáveis, também temos nossa sexualidade controlada, não sendo incentivadas à masturbação - que ainda é um grande tabu - e a um controle excessivo no que diz respeito ao início da vida sexual.
Além do mais, ainda vivemos numa sociedade que acredita que o destino de toda mulher é ser mãe, e que na maternidade está sua maior realização, o que chamamos de maternidade compulsória.
E nem quando uma mulher se torna mãe, esse controle sobre a sexualidade tem fim. No dia das mães do ano passado (2023), Angélica fez uma publicidade para uma marca de vibradores, e foi altamente criticada em suas redes sociais. “Vibradores não são presentes para mães”, diziam a maioria dos comentários.
Por outro lado, revistas de comportamento feminino, ano após ano fazem matérias sobre sexo após o casamento, oferecendo dicas para que as mulheres voltem a ter relações sexuais com seus parceiros, para não abalar ou colocar em risco a relação matrimonial.
Acontece que a vida sexual da mulher, em nossa sociedade, é de todo mundo, menos dela mesma. A sociedade decide quando é melhor “perder a virgindade”, a família opina sobre quando elas devem engravidar, estabelecem-se crenças morais sobre o sexo no casamento, há cobranças e expectativas quanto ao sexo pós-filhos, além do tabu que ainda é a masturbação, em qualquer etapa da vida.
Com isso, ainda hoje, muitas mulheres não compreendem seus próprios processos, alijadas de uma autonomia sexual por toda a vida.
E aqui quero focar em um desses aspectos: o sexo após a maternidade.
É recorrente ouvirmos de mulheres que após o nascimento dos filhos elas ficam “sem libido” e se sentem constantemente pressionadas pelo maridos, e até por si próprias, muitas vezes tendo relações sexuais sem vontade (que na verdade é um tipo de estupro marital, ou seja, pelo marido), com medo de ser trocada ou traída por não estar cumprindo com mais essa “obrigação”.
Acontece que não somos ensinadas que a gestação, o parto e a amamentação e cuidados com o recém-nascido são também experiências sexuais, afinal são as vivências do corpo sexuado. E essas vivências são, literalmente, viscerais. Assim, a mulher não está sem libido - e libido aqui enquanto manifestação físico-psíquica da pulsão desejosa por algo - mas sim, com muita libido direcionadas para si e para seu filho, com todos os sentidos, pensamentos e afetos voltadas para esses processos da maternidade e da maternagem.
Mas, como essa libido exclui o homem e não está direcionada para ele, o que nossa sociedade fez? Patologizou esse comportamento, fazendo com que as mulheres se sintam culpadas, levando-as a acreditarem que há algo de errado com elas, tomando o controle de mais um processo e etapa de nossa sexualidade.
Então, nesse dia das mães meu desejo é que a maternidade seja também um espaço de retomada - ou do início da construção - de uma autonomia da sexualidade das mulheres, para que as experiências dos nossos corpos sexuados sejam inteiramente nossas, e possamos nos reconhecer desejosas e cheias de libido pela vida, pelos nossos filhos e por nós mesmas, sem a mediação ou validação de ninguém.
Temos que falar
Tem umas semanas, uma amiga do trabalho conversava comigo durante o almoço e, papo vai, papo vem, entramos num assunto sensível, íntimo, dela com o marido (que eu também conheço pessoalmente). O papo ia se aprofundar mas logo nas primeiras frases ela me falou que era melhor não seguir com o assunto, porque ele já tinha falado com ela que achava que ela “o expunha demais” com essas conversas. Dias depois, outra amiga num grupo de whatsapp comentou dessa mesma objeção do namorado, que não queria que ela falasse da vida sexual deles com as amigas porque estaria expondo muito ele.
E eu fiquei encucada com isso, visto que crescemos numa cultura de super exposição da mulher em todos os âmbitos, especificamente da intimidade a dois, e especialmente na juventude. São inúmeros os relatos de papos entre os garotos sobre as meninas que eles estavam “pegando”, que garota fazia o que, quem topava um avanço maior na hora do “amasso”. Inclusive uma outra amiga já me contou que um namorado de anos começou a se interessar por ela na adolescência porque soube por um outro amigo que ela topava transar (o namorado mesmo falou isso pra ela na época).
Aí que te pergunto: porque os caras podem trocar esse tipo de confidência/informação/relato e nós, mesmo já adultas, mesmo já casadas, não podemos conversar sobre esses assuntos com nossas amigas? Não sei se esse tipo de papo rola atualmente entre os homens adultos, parei até de perguntar, mas não vejo porque as mulheres deveriam deixar de falar sobre o que acontece com elas.
E não com o intuito de fazer propaganda ou de contar vantagem (isso é bem coisa de jovem) mas de dividir com amigas de confiança situações maravilhosas (ou desagradáveis), novidades que cada casal vai trazendo, dificuldades que todas nós, uma hora ou outra, enfrentamos.
Se na hora do sexo as coisas acontecem a (pelo menos) duas pessoas, porque uma delas não pode falar sobre si, suas sensações e impressões, com as suas de confiança? Todo mundo adulto aqui, né gente. Todo mundo com capacidade de segurar a onda e se comportar depois naquele encontro de final de ano com a galera sem fazer piadinha disso.
Eu sou partidária de mulheres conversarem sobre esses assuntos íntimos com um punhado de amigas, ainda que às vezes, durante esses papos, me perceba pudica nas minhas ações e opiniões. Mas como mulheres, nós precisamos conversar mais e nos libertar de certas amarras da sociedade sobre a nossa sexualidade. E um caminho poderoso para essa libertação é o do compartilhamento de experiências.
Minha carne é de carnaval
Procura-se uma namorada de boa aparência.
Boa aparência você sabe o que significa, né? Branca.
Hoje em dia não consigo pensar em sexualidade sem pensar o recorte de cor. Em pensar em mim como mulher negra, mas nem sempre foi assim.
É bem verdade que eu nem me reconhecia como mulher negra pelo recorte da sexualidade até que, durante a pandemia, em uma live com a Laís Porto (@umaleitoranegra) na minha antiga empresa, a Sementinha, ela falou sobre a solidão da mulher preta, e eu pude ali, me identificar perfeitamente neste termo.
À nós pretos, cabe o sexo. Desde a escravidão, a epiderme tingida, lábios e culotes voluptuosos são como um convite para qualquer prática libidinosa. Nossos corpos sempre venderam: cerveja, cigarro, carnaval.
Mas a carne mais barata do mercado também é a carne negra neste sentido.
E na hora de se casar, se relacionar de verdade, não são esses mesmos corpos os procurados.
Por muito tempo achei que era eu. O problema estava em mim, o fato de uma pessoa ficar por muito tempo comigo, ter uma química foda, ter uma relação muito bacana, mas não querer namorar. Pouco tempo depois essa mesma pessoa aparecia namorando uma menina branca, geralmente com cara de “que é pra casar”.
Ah, mulher branca quase sempre é pra casar.
Pode ser que você não sinta isso, talvez não tenha virado essa chavinha como eu virei quando conversei com a Laís, mas agora solteira novamente percebo muito claro essa solidão.
A solidão da mulher negra é aquela de ser não ser escolhida, de não ser eleita, de ser a opção apenas carnal.
O campo do afeto é um campo vazio, muito pouco explorado por nós, que muitas vezes, acabamos fazendo escolhas muito equivocadas só pelo fato de não sermos escolhidas.
E não é culpa de ninguém além do racismo estrutural que está em cada um de nós - vejam bem, também em mim - que ainda tem o branco como padrão de beleza e de ser para se relacionar.
Reconhecer que essa solidão existe já é um grande passo. Conversar sobre ela, acolher, refletir pode ser um grande passo para não sermos tão sozinhas assim.
Você não está sozinha. Nós estamos.
Tempo de qualidade
"Sex and the City", uma série que eu amei assistir e depois amei os filmes e aí pensei: por que não dar uma olhada no primeiro episódio já que ela está agora na Netflix. Vi um, gostei, depois outro e mais alguns. Aos poucos toda a trama da série que acompanhei através do tocador de DVD voltou pra minha memória. Tanto a parte boa e disruptiva da série que foi lançada em 1998, há quase 30 anos, socorro, quem botou o tempo na velocidade 2x? Quanto à parte ruim, o estereótipo das mulheres sempre atrás dos homens, o reforço ao modelo padrão de aparência e tantos outros defeitos. Mas também como uma série que ficou no ar no início dos anos 2000 falando sobre sexo e mulheres, não teria defeitos? Não dá pra ser disruptiva e perfeita. São duas coisas que não andam juntas. É fácil sentar hoje, analisar a série fala por fala e cancelar ela nos tribunais das redes sociais. E não estou defendendo que tudo que fizeram foi incrível, também não foi apenas ruim.
Eu acabei parando de assistir porque me deu preguiça reviver todo aquele drama. Mas levo três momentos da trama que influenciaram a minha vida sexual ou o início dela, dado que assisti à série quando tinha 20 e poucos (quando eu assisti aqui no Brasil a série já tinha acabado lá fora). A primeira cena é a do episódio do vibrador, o ano era 1998 e elas já estavam espalhando a palavra do gozo livre pro mundo inteiro ver. Foi revolucionário. Acho que foi um dos meus primeiros contatos com essa maravilha nada moderna e que se popularizou bastante de lá pra cá, chamada sex toy.
O segundo é a cena em que Samantha engorda porque terminou um relacionamento e aí ela aparece com uma barriguinha tipo pochete e as amigas fazem uma intervenção. Tiram um chocolate da mão dela e falam que ela precisa emagrecer. Foi péssimo, pra mim um dos pontos mais baixos da série e que ajudou a moldar um pensamento que ainda tento desconstruir dentro de mim, o de que só serei desejada sexualmente se estiver com o corpo perfeito. Não sei quantas vezes olhei pra minha barriguinha pós maternidade e lembrei dessa cena humilhante. Um dos maiores desserviços do entretenimento de forma geral (série, filmes, livros), para nós mulheres, é esse reforço do corpo padrão como o único que será desejado e consumado.
O terceiro, acho que já é nos filmes, mas elas falam sobre isso na série, que são elas conversando sobre a quantidade de vezes que um casal monogâmico, cis, hétero faz sexo. Basicamente a versão adulta e feminina da brincadeira de comparar o tamanho do pinto. Cada uma dá a sua resposta e a Carrie diz que não mede quantidade e sim qualidade. Daí corta par uma cena dela e do marido, o Mr. Big, performando sexo de forma hollywoodiana. Ou seja, bem pouco real, com a mulher gozando só com penetração e tudo mais que vemos por aí. Mesmo assim, fazendo esse recorte, quando vi essa cena pensei: é isso! Sou da qualidade e não da quantidade.
Tempos depois conversando sobre isso em uma roda de amigas, todas em um relacionamento estável. Uma disse que fazia uma vez por mês, outra disse que estava há meses sem transar, outra disse que agendava e fazia a cada quinzena e eu meti essa da qualidade. Não sei quantas vezes faço, só sei que quando faço conta como tempo de qualidade. Isso tudo antes da maternidade. Depois dela as coisas mudaram um tanto.
Após a maternidade o cansaço generalizado bateu na gente, bateu não. Derrubou mesmo. Durante os primeiros meses a minha única necessidade sexual era me manter bem afastada de qualquer coisa que remetesse a ela.
Felizmente a do meu parceiro também. Não tem tesão no mundo que vença a minha falta de sono. Pra transar com qualidade eu preciso estar com a vida minimamente equilibrada. Minha libido acabou virando o Wally que eu precisava encontrar no meio da multidão de desafios diários que tinha que vencer.
Passado o turbilhão dos primeiros meses de pós-parto, aos poucos a maternidade foi se ajustando ao meu corpo, o tempo fez a sua mágica, a chama do prazer sexual voltou a sua forma de fogo e de tempos em tempos ela explode dentro de mim.
Tempo de qualidade que agora deixo acontecer naturalmente, como canta Xande de Pilares. Mas não tão naturalmente, porque a ajuda de brinquedos e lubrificantes faz tudo fluir melhor, se é que você me entende ;)
A treta do interesse
Se pra maioria o comum é achar todo mundo feio, pra mim sempre foi o oposto. Já fui muito taxada pelo meu “gosto exótico e excêntrico”, sem entender muito bem até hoje o que isso significa. Conforme fui amadurecendo percebi gostos particulares, mas sempre mantive uma mente aberta à beleza alheia. Também não sei explicar bem o motivo de sentir interesse pelas pessoas em tantos momentos e tantas vezes.
Meus apaixonamentos são platônicos e passageiros, mas eu gosto de senti-los. Fica polêmico e difícil lidar com estes pensamentos, contudo, depois que esse mundo nos converte ao que chamamos de casamento. Um pacto monogâmico já dado, sem discussão. Ninguém precisa te ensinar o que está por trás desse sistema.
Mas, assim, vocês deixaram de sentir interesse pelos outros automaticamente ou simplesmente sublimaram, esconderam, disfarçaram, guardaram pra si, tiveram vergonha?
Que loucura foi essa que a gente internalizou que agora somos do outro e o outro é nosso a ponto de não poder falar ou sentir algo por alguém que não seja essa pessoa com quem você estabeleceu relação?
Uma vez, numa briga muito emotiva, meu pai gritou com minha mãe por um motivo banal a respeito de um ex-namorado que, no caso, era irmão do cunhado dela (sim, minha mãe e minha tia chegaram a namorar irmãos gêmeos, sendo que minha tia casou com um deles e minha mãe terminou com o outro). E naquela ocasião, meu pai estava demonstrando ciúmes de um relacionamento que já havia acontecido há mais de 30 anos, ainda na adolescência…
Corta para eu e minha mãe indo a uma ginecologista nova juntas e a médica perguntou quando ela transou pela primeira vez e ela respondeu: com 21, quando casei. Eu sei que não foi. Ouvi muitas conversas dela com as amigas confessando ter sido aquele irmão do cunhado… Mas, por que ela achou que não poderia falar sobre isso na minha frente? Por que ela não podia demonstrar nenhum tipo de vontade ou desejos e nem assumir que havia tido mais de um parceiro sexual?
Um tabu que precisamos discutir mais. Não estou falando de abrir relação, de não monografia e afins. Estou falando de sinceridade entre pessoas adultas emocionalmente, dispostas a ficarem juntas, porém reconhecendo a humanidade e os desejos simples que temos por terceiros/as. Imagina que irreverente e leve seria poder contar para aquele/a que mais convivemos de uma pessoa linda que vimos na rua ou de um professor muito sedutor da palestra que você assistiu e ainda usar isso pra uma fantasia entre vocês? Sabe, ninguém é dono de ninguém e os homens sabem disso há tempos.
A gente faz escolhas e elas não precisam engessar quem somos e fazer a gente deixar de ter tesão pelos outros mesmo com uma parceria fixa.
Se você assistiu ao filme Vidas Passadas, disponível no Telecine, pôde perceber a relação interessante entre a protagonista e seu marido, que reconhecia a paixão (não resolvida) dela por uma outra pessoa do passado. Ele não evitou falar sobre e ainda a acolheu em um momento de vulnerabilidade em que é presumível que ela estivesse lamentando por ter deixado passar a história com o amigo de infância. Este tipo de atitude, pra mim, só reforçou o amor deles (apesar de eu estar torcendo pelo outro rs.).
Então, que tal sermos mais honestas conosco e com nossos/as parceiros/as? Vamos assumir nossos interesses? Desejar sem que isso seja um tabu e conversar mais sobre quais deveriam ser os verdadeiros limites da relação?
Mãe é mulher?
Quando pensei em falar sobre maternidade e sexualidade, logo me veio a ideia de falar sobre como a sociedade coloca a mulher que vira mãe numa caixinha separada do restante das mulheres. Contrapõem tanto as categorias mãe e mulher que quando uma mulher está saindo do puerpério ou finalizando o desmame dizem que ela está querendo “voltar a ser mulher”, como se sua experiência com a maternidade não fosse a experiência fêmea por excelência em termos biológicos.
Gestar e parir faz parte da nossa sexualidade, e sexualidade é algo lato sensu mesmo, não se trata somente do ato sexual. Mas como a visão de sexualidade amplamente aceita é uma visão que serve ao patriarcado, se uma mulher não mantém uma rotina sexual como antes da maternidade, seja por conta das variações hormonais, da exaustão das noites (e dias) como mãe de um bebê ou por ainda não se entender num corpo que apesar de seu lhe é novo, essa mulher deixa de ser mulher - agora ela é mãe.
Ora bolas, mas ser mãe é ser mulher, como não? Me incomoda demais essa divisão, que automaticamente transforma a mãe nesse ser imaculado e anticlímax - ao mesmo tempo que transforma a mulher num ser pautado em sua atividade sexual.
Acho chato quando vejo essas abordagens do desmame de que chega um momento em que a mulher precisa clamar o seu corpo para si, como se ele tivesse deixado de sê-lo. Na verdade, até certo ponto, compartilho dessa teoria. Estou eu mesma em fase de desmame do meu mais novo e tem horas que tudo que menos quero é alguém querendo os meus peitos. E, como mãe de duas crianças relativamente pequenas (embora nenhum bebê mais, que o mais novo tem 2 anos) muitas vezes eu não quero ninguém encostando em mim, de tanto que me tocam, me puxam, me escalam, me demandam fisicamente ao longo do dia. Quero sim retomar o meu corpo só para mim.
Mas sigamos nessa reflexão: será que essa mãe, incomodada com os múltiplos toques em seu corpo ou com os seios em usufruto de outrem vai clamar o corpo para si? Ou essa pretensa “retomada do seu corpo de mulher” nada mais é do que devolver esse corpo para o marido, para que ele sim possa se apoderar novamente dos seus seios como objetos sexuais, da sua rotina sexual de antes da bomba de hormônios do puerpério? Então: essa retomada da vida sexual é realmente pensada em prol do prazer da mulher?
Seguindo essa linha de pensamento, me pego me questionando sobre a rotina sexual, em qualquer fase que for da vida de qualquer mulher, mas em especial nas mulheres mães. Se o casamento não tiver uma rotina de sexo X significa que ele está dando errado. E quão frequente devem ser as transadas para um casal se considerar “numa boa fase do casamento”? Uma rotina igual a de um casal em início de relacionamento? Uma rotina que respeita a vontade de ambos e pode flutuar de acordo com diversas questões, inclusive (ou principalmente) a chegada de um bebê?
Por esses questionamentos que me pego com algum ranço de um discurso liberal da obrigatoriedade de transar para se sentir bem. Veja bem, não estou aqui sendo a senhora conservadora e dizendo que transar não é importante, menosprezando os benefícios de uma vida a dois repleta de orgasmos compartilhados. Só estou problematizando o lugar de importância que damos ao bater ponto no sexo. E só estou fazendo isso porque percebo, entre amigas e desconhecidas, mais relatos de mulheres que tomam o sexo nas suas vidas conjugais pós-filhos como mais uma das obrigações a serem cumpridas, como arrumar a casa ou levar as crianças para escola. E que se não for cumprida, significa que o casamento acabou - quando casamento mesmo é sobre muito mais do que tantos dias de sexo na semana/mês/periodicidade que for.
Pois bem, quando pensei nesse tema, gostaria de falar sobre as mães nunca deixarem de ser mulheres, falar do prazer dos corpos dessas mulheres, falar sobre orgasmos e sobre empoderamento do prazer. Gostaria de dizer que mãe não é uma figura imaculada e não-sexual, que ela deve ser uma protagonista dos seus desejos todos, sexuais e não-sexuais, que ela deve ser desejada e desejante. Mas se chafurdar na sexualidade feminina, ainda mais de mulheres mães, é se deparar com algo muito menos bonito: com o fato do nosso corpo na nossa sociedade nunca ser, de fato, nosso.
Dicas do Peito!
🐣 Com elas (as crias)
Gogô - De onde vêm os bebês?
Da Ju
Pras crianças “médias” (nem tão pequenas assim), que já perguntam (e vão ter capacidade de entender um pouco mais) de onde vêm os bebês, esse livro da Caroline Arcari é excelente. “Gogô - De onde vêm os bebês?” é direto ao ponto, sem explicar demais ou de menos, não trata a criança como um ser bobo. Vale cada família avaliar quando é a melhor hora de explicar certas situações e esse é um ótimo suporte pra isso.
PS: a Dica da Cat, logo abaixo é meu livro favorito pra falar com as crianças desde muito pequenas sobre partes do corpo, consentimento, toques permitidos e proibidos, sem assustar. Com o texto rimado e ilustrações fofas, é um queridinho aqui de casa, tanto que sei recitar de cor: meu corpo, meu corpinho, tão meu, tão bonitinho!Princesa Kevin
Da Dani
Existe um livro com que podemos abordar diversos temas sobre sexualidade com nossos filhos como: diversidade, relação de gênero, respeito e transsexualidade: Princesa Kevin.
Nesse livro, Kevin é um menino que no dia da fantasia da escola quer ir vestido de princesa
.
Indico demais e acho um dos livros mais fantásticos sobre esse tema!
Meu corpo, meu corpinho!
Da Catarina
Nesse livro a criança é convidada a entender que o corpo dela é dela. Fala sobre a importância do não e de impor limites quanto ao toque indesejado. E também ensina a criança a procurar um adulto de confiança para contar quando algo de errado está acontecendo com ela. Aqui o link.
Como conversar sobre a famosa questão: por que não posso namorar?
Da Pri
A primeira pergunta desse compilado da Cila Santos, do Militância Materna, ajuda um pouco a pensar em respostas coerentes e inclusive a prevenir o abuso sexual. Quando a gente realmente explica dentro da capacidade de entendimento da criança, ela vai construindo ferramentas de defesa e internalizando conceitos sobre o que é permitido e o que não é e como ter repertório para reconhecer padrões anormais de interação com adultos.
Livro “A Mamãe Sangra”
Da Marcela
Na edição passada falei sobre menstruação e de lá pra cá esse assunto tem ficado ainda mais presente com a minha filha. Ontem ela me perguntou se ela iria menstruar um dia também. Expliquei que sim, claro, com uns 12 ou 13 anos. Percebi que vou precisar de mais material para conversar com ela sobre o tema e lembrei do livro “A Mamãe Sangra”, da Claudia Pacheco. Ainda não temos, vou comprar para dar de presente a minha filha. Mas ele é uma referência legal sobre o tema e acho que não vou me arrepender de indicá-lo aqui antes mesmo de ter um exemplar! Clique aqui para comprar
💃 Sem elas (as crias)
Uma estratégia e uma indicação
Da Ju
Como eu to quase sempre dirigindo, eu escolho o que vai no rádio então uma das minhas técnicas de fazer o conje escutar o que eu quero que ele escute é colocar podcasts no carro. E nisso os assuntos vão surgindo, os papos se desenrolando. Olha só, duas dicas em uma: uma estratégia e uma indicação, o episódio Sexoterapia do Mamilos. Essa é uma recomendação mais antiga (não escutei novamente pra saber se envelheceu como vinho ou queijo cottage, mas quem escutar, conta aqui) mas inaugurou uma nova temporada no meu relacionamento.
Aprendendo sobre solidão da mulher negra
Da Dani
Alguns vídeos bacanas para entender um pouco mais sobre a solidão da mulher negra.- Neste aqui temos alguns dados que explicitam bem o tema “Nós Explicamos: o que é a solidão da mulher negra?”, excelente vídeo do Papo de Segunda de Verão.
- Djamila Ribeiro fala um pouco disso aqui:
Episódio Prazer, Mulher, do podcast Não Te Empodero
Da Marcela
Aproveitando o ensejo da nossa convidada da edição, a Ana Sharp, recomendo fortemente o episódio sobre prazer feminino do podcast “Não te Empodero”, da Maria Carol Medeiros com participação da Ana. Muita coisa interessante para debater e pensar! Ah, e o podcast está em temporada nova, com novos episódios sendo lançados. Vale acompanhar.
Pint of Science
Da Pri
Essa iniciativa visa aproximar a ciência da sociedade de forma divertida e informal e, assim, todo ano, celebra reunindo pesquisadores em bares para discutir tópicos de diversas áreas do conhecimento. Esse ano vai acontecer em quase 200 cidades do Brasil e simultaneamente em mais de 25 países. No site é possivel encontrar os eventos por cidade. No Rio, será no Three Monkeys House, em Botafogo. Destaco o dia 15/05 que tratará sobre maternidade e ciência. Eu estou marcando de ir com algumas amigas e bater muito papo sobre ciência e, trazendo pra nossa temática, por que não, sexualidade?
Então, prepara sua rede de apoio ou até leve sua cria junto e una-se a gente nessa empreitada de nos reconhecermos não só como mães, mas como tantas outras coisas, inclusive, cientistas e mulheres muito sexuais e maravilhosas!
Lubrificantes ou hidratante íntimo
Da Catarina
Já indiquei aqui os da Lubs que são ótimos. Só que o de Jambu tem que usar com parcimônia pra não arder demais. Indico também os da Feel, que eu ainda não testei, mas estão na minha lista pra quando os da Lubs acabarem.
🎶 Já conhece as nossas playlist no spotify?
→ Para ouvir sem as crias
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Adorei a edição!
Muito boa a contribuição da Ana Sharp.