Divinas Tretas #23
Newsletter sobre não poder ficar doente, ser saudável, dona da porra toda e mensagem de Dia das Mães. Com dicas do peito com as crias e sem as crias do Rio e do Mundo.
Atenção: tudo que estiver em azul é um link.
Recado da Ju de férias: quero escrever melhor depois mas por hoje queria lembrar você de fazer as vontades DA SUA criança interior também. Ela não chora nem bate o pé como faz (provavelmente) a criança que você colocou no mundo mas ela também precisa brincar, rir, se divertir. A minha tá se esbaldando nessa viagem!
A treta de não poder ficar doente
A primeira vez que dormi longe da mais velha quando o mais novo ia nascer. Tinha planejado um parto domiciliar, mas acabei precisando de uma cesárea de emergência. Apesar de sabermos que aquilo poderia acontecer, eu estava confiante que ela participaria desse nascimento.
Às vezes a vida dá umas rasteiras e a gente precisa seguir, faz parte.
Mas, esse episódio e as duas internações por bronquiolite que o recém nascido teve em menos de dois meses me fizeram perceber que eu não podia ficar doente.
Eu nunca havia passado nem por uma cirurgia em toda a vida, nunca tinha tido qualquer tipo de doença que me levasse à algo mais sério. No entanto, estava claro pra mim que especialmente a partir do momento em que me tornará mãe de dois, estava fora de cogitação enfrentar qualquer situação adversa que envolvesse hospital e minha pessoa.
Quando tivemos COVID em família, os dois adultos "comemoraram" o fato de termos tido os piores dias separadamente porque, né, em isolamento, com duas crianças, como ia ser?
Assim como acontece com todas nós, desde que me tornei mãe percebi que a gente tira forças de onde não tem. E não digo isso como uma coisa boa não. A gente vai no limite do humano e o ultrapassa. Talvez seja por isso que lá no fundo, mesmo buscando ter empatia, acabo não levando tão a sério quando uma pessoa sem filhos me diz que está "muito cansada". RS. Desculpa se você me lê.
Mais recentemente tenho sido acometida pelas viroses que as crianças me trazem da escola, por novos episódios de gastrite, de dores bizarras provindas da disfunção mandibular e da fascite plantar.
Ah, mas você precisa cuidar de você. Quem não sabe disso? Eu só não tenho energia para gastar em ligações para marcar exames, médicos, encontrar horários compatíveis com a rotina, gerenciar e delegar os cuidados caso eu precise me ausentar das tarefas cotidianas, acionar a rede de apoio, negociar na creche… Enfim, acho que até colocar todo esse plano em prática, já fiquei curada.
Maternidade e exercícios físicos
A primeira coisa que muita gente pensa quando o tópico é maternidade e exercícios físicos sem dúvida é na famosa meta de retomar o corpo de antes. O corpo de antes da gravidez, de antes do parto, de antes das noites mal dormidas, de antes da rotina demandante com uma criança.
O corpo de uma pessoa que não existe mais - ou melhor, existe, você nunca deixou de ser você; mas existe de uma forma completamente diferente.
Uma outra você, um outro corpo. Mesmo que seu corpo não tenha mudado tanto assim após gerar e parir.
E por muito tempo, confesso, pra mim foi isso mesmo: perder uns quilinhos que teimaram em ficar em mim depois que tive a Eva, minha primeira filha. Só que com a bagunçada geral que a maternidade dá na pessoa, não consegui nunca entrar num ritmo bom de exercícios. Fazia, parava, me matriculada na academia, ia meio forçada, acabava deixando de ir e fazendo uma doação mensal pra smartfit porque todo mês achava que voltaria a frequentá-la. Aí veio a gravidez do Tomé, durante a qual eu me arrastava até pra ir do quarto pra cozinha. Depois dela, tive mais uma série de quase rotinas de exercícios que nunca vingaram e se consolidaram como rotinas propriamente ditas.
Esse ano, uma chavinha mudou pra mim. Eu percebi que o problema é que, numa rotina exaustiva de mãe de dois que trabalha, eu não preciso de mais um peso, mais um compromisso, mais uma obrigação. Tem que ser fácil de encaixar. Tem que ser uma meta acessível. Eu não posso me culpar se não conseguir ter a rotina de exercícios mais ideal do mundo. Melhor eu ter ALGUMA rotina de exercícios do que NENHUMA. E percebi que achar um horário para ir para a academia me trazia mais angústia do que prazer. Comecei então a fazer treinos virtuais de um canal de YouTube que já dei a dica aqui e fui curtindo cada vez mais. Foi fácil de encaixar no meu dia a dia, as durações funcionam pra mim e treino de força, com alongamentos efetivos, me trouxe uma melhoria em todos os aspectos. Passei a ver o exercício de outra forma, como algo que me faz bem. Não vou ser hipócrita e dizer que não ligo pros resultados físicos em meu corpo - eu ligo sim e adoro ver as mudanças. Comecei a perceber que me exercito por três motivos:
Melhorar minha disposição e bem-estar, diminuir dores
Cuidar da minha velhice (envelhecer ativa fisicamente e sem tantas limitações é algo que almejo)
Por último, melhorar minha forma física
Outro dia a professora desse canal fez um post que falava algo que ficou na minha cabeça: que os exercícios ditos para mulheres não diferem em quase nada dos exercícios para homens no YouTube. Que a maior diferença é como descrevem esses exercícios: que para homens o enfoque é em "crescer áreas do corpo" e para mulheres o enfoque é em "diminuir áreas do corpo". Curto que o enfoque dela é em fortalecer e realmente nunca vi ela falar em emagrecer nos seus vídeos, ou em beleza no geral. Ela fala sobre força, saúde, melhoria de estilo de vida. Talvez isso tenha me ajudado a mudar minha visão também.
O fato é que tenho me sentido bem melhor e tenho tido uma relação bem mais leve com a obrigação de me exercitar. Deixo então meu conselho que é:
Procure alguma forma de se exercitar que se encaixe na sua rotina.
Busque um tipo de exercício que te dê algum prazer.
Crie metas alcançáveis, mesmo que isso signifique poucas sessões semanais ou sessões curtas. Melhor 15 minutos de treino 2 dias por semana do que nada - porque você gostaria de uma rotina que não se encaixa na sua realidade naquele momento.
Sue. Suar é fundamental.
E vambora, chapadinhas de endorfina!
A dona da porra toda
Essa semana eu estava vendo uma publicação sobre a mulher tomar as rédeas do seu prazer. Nesse vídeo, a terapeuta falava sobre como a gente tem pouca autonomia com nosso próprio prazer, deixando pro outro o nosso gozar.
Como disseminadora da palavra do sugador fiquei logo pensando na masturbação e no uso do vibrador como forma de se autoconhecer e também de ter controle do nosso próprio prazer.
Isso ela também dizia: da importância de se conhecer para ter o controle do orgasmo. Mas ela tocou num ponto que realmente me deixou pensativa: como durante o sexo muitas vezes nós transferimos ao outro esse controle. Muitas vezes a gente quer que a outra pessoa encontre nossas zonas erógenas sem que indiquemos quais são.
É claro que temos que considerar anos de repressão sexual que vivemos (e que ainda existem), a falta de diálogo sobre sexo, a falta de estímulo do autoconhecimento, que influenciam pra caramba nessa nossa falta de autonomia. Mas eu nunca tinha pensado o quanto deixei de falar onde e o que me davam prazer, simplesmente esperando que a outra pessoa já soubesse.
Quantos sexos péssimos eu fiz sem que eu deixasse claro o que me satisfazia?
Estamos numa era de revoluções e liberdades sexuais, o que é ótimo para rompermos essas barreiras externas e internas, e tomar um pouco mais o controle da nossa sexualidade e prazer.
Desejo muito que em poucos anos a gente consiga falar de prazer e orgasmos femininos tão abertamente quanto os homens. E desejo que todas nós tenhamos essa autonomia com relação ao nosso próprio gozo, que sejamos todas a dona da porra toda!
Mensagem de Dia das Mães
Semana passada, me vi diante de uma tarefa simples: criar uma mensagem de Dia das Mães para as redes sociais da empresa em que trabalho. Travei.
Na verdade, essa tarefa já estava na minha lista há algum tempo e eu a evitava, procurando outras coisas para fazer, como lavar a louça. Eu estava sem inspiração mesmo.
Então, minha chefe me enviou um artigo que mostrava 14 mães empreendedoras. Cada biografia mencionava em algum momento os filhos que elas tinham, a idade deles e, em seguida, um texto para provar que essas mães eram bem-sucedidas no trabalho. Eu achei interessante, mas fiquei um pouco incomodada com essa ideia de exaltar as mães que trabalham, como se dissessem: "Olhem como elas são incríveis e conseguem dar conta de tudo". Acredito que esse ideal atrapalha um pouco a relação que muitas mulheres desenvolvem com o trabalho após se tornarem mães. No final, isso não me inspirou a pensar em nenhuma mensagem.
Depois, li uma reportagem que falava de uma CEO que conseguiu encontrar um equilíbrio entre a carreira e a maternidade. No final da entrevista, perguntaram a ela o que ela mudaria no mundo com um estalar de dedos. Ela respondeu que implementaria o modelo sueco de licença maternidade, onde é possível tirar até 1 ano de licença e os pais ou cuidadores são incentivados a compartilhar esse tempo. Ou seja, seis meses com a mãe e depois seis meses com o pai. Ela finaliza falando que testemunhou esse modelo de perto e viu o impacto positivo que ele tem no cuidado com os filhos, pois garante que esse cuidado não seja responsabilidade exclusiva da mãe e que seja respeitado no ambiente de trabalho.
Eu já tinha ouvido falar desse sistema, mas nunca tinha realmente refletido sobre ele. Como uma política tão clara expõe as desigualdades no cuidado com os filhos e como ter políticas públicas igualitárias acelera o processo de alcançar a igualdade de gênero, algo que ainda parece tão lento no Brasil. Por aqui, a maiorias dos homens têm apenas 5 dias de licença paternidade. Tudo isso me deixou numa vibe bem pouco animadora pra escrever a tal mensagem.
Para a rede da Divinas, foi fácil, desejamos aquilo que sempre pedimos: uma abundante e presente rede de apoio.
Quanto às redes da empresa, fiquei com vontade de desejar o sistema sueco de licença, mas me pareceu um pouco utópico demais e até deprimente.
No fim, acabei me enrolando com os prazos e não escrevi a mensagem. No Domingo, durante o Dia das Mães, li muitos textos que falavam: "hoje vamos curtir e agradecer, e amanhã voltamos à luta". Ou coisas do tipo, uma espécie de caminho do meio para não deixar o dia passar em branco, mas também para não esquecer de continuar reivindicando, falando, pedindo, chorando?
Afinal, como dizia (RIP 😢) Rita Lee: "Quem não chora daqui, não mama dali". E eu queria, sim, que as mães mamassem nas tetas do estado.
Dicas do Peito!
🐣 Com elas (as crias)
Da Pri
Localizada em Botafogo, essa pizzaria foi a mais acolhedora para crianças de todos os restaurantes que já fui. Gerenciada por uma mãe solo, a experiência não poderia ter sido melhor! Cheguei sozinha com duas crias e já recebemos livrinhos para pintar, canetinhas e lápis de cor. Perguntaram meu nome (e não me chamaram de “mãezinha) e o deles, vinham verificar a todo instante se estávamos confortáveis e sempre com sorrisos, sem demonstrar nenhuma forma de incômodo com aquele caos comum que vem no pacote criança+restaurante. Levaram a mais velha para ver o forno a lenha e nos informaram da programação que acontece de terça a quinta (das 18h às 19h) mediante agendamento, onde as crianças podem preparar juntamente com a equipe sua própria pizza. Sério. Recomendo mil vezes.
Sejamos todas feministas
Da Dani
Vocês já leram sobre feminismo com seus filhos?
A Chimamanda Ngozi Adichie escreveu um livro maravilhoso: Sejamos todos feministas, que tem uma versão para jovens simplesmente necessário!
Nesse livro, com uma linguagem simples e ilustrações lindíssimas, mostra a importância do movimento feminista e como devemos fazer parte dele.
Casa Firjan
Da Catarina
O Empório Jardim abriu uma filial nesse espaço super legal que é a Casa Firjan em Botafogo. Mas, infelizmente o café vive lotado, praticamente impossível conseguir uma mesa. A dica é pedir pra viagem no balcão ou levar alguma coisa pra comer e só comprar o café ali. Eu consegui pedir no balcão e foi ótimo, amo o pão de queijo deles que, na verdade, é um gougère (pão de queijo francês) comemos nas cadeirinhas e depois a pequena curtiu muito correr livre por lá.
💃 Sem elas (as crias)
Aplicativo Show my Colors
Da Pri
Estava conversando com uma amiga e comentei sobre os looks deslumbrantes dela. E ela me respondeu que recentemente havia baixado um aplicativo que mostrava as cores que mais combinavam com seu tom de pele e que isso estava fazendo uma diferença significante. Fiquei interessada em dar uma espiada e, por incrível que pareça, bateu um pouco com as cores que eu acho que combinam mais comigo. Se quiser, verifica lá também. Ps. Isso não substitui de nenhuma forma a profissional (em geral mulher, como a maravilhosa Ana Soares - volte para a dica da Dani da edição #9), que faz consultoria de estilo. Esse é um trabalho individual, que envolve muito estudo e experiência. Minha dica é só uma ajudinha básica.
Android e IOSCenas inusitadas do Google Street View
Da Marcela
Esse site concatena imagens inusitadas do Google Street View. Achei muito divertido de ver! Faz a gente pensar que o mundo é muito grande mesmo, cheio de coisa que a gente nem imagina acontecendo por aí, cheio de lugar bonito pra ainda se conhecer. Taí a dica mais aleatória do seu dia, que espero que traga um momento de ócio divertido pra você.
Apoiem projetos sociais maternos
Da Dani
Ainda no mês das mães eu vou dar a dica de dois projetos sociais incríveis que apoiam as mulheres em duas fases importantes da vida.
A Argilando possui dois projetos para mulheres que precisam de muito apoio de todos:
No Amor em chá, realizam a captação e doação de itens de decoração para chá de bebês. É um projeto sustentável e que possibilita que novas mamães possam festejar a chegada de seus bebês.
O Carinho em pote é o projeto de promoção à amamentação. Através da captação, triagem e doação de potes de vidros para bancos de leite, possibilita que mamães possam amamentar seus filhos com o carinho de outras mães.
Você pode ajudar com doações de itens ou dinheiro na instituição.
Mais informações aqui.
Economia do cuidado
Da Catarina
Seguindo sobre cuidado materno ou a falta dele (risos de desespero), adorei esse episódio do podcast O Assunto. Fiquei curiosa pra ler esse livro da Vanessa Barbara "Mamãe está cansada" acho que o terei na prateleira em breve.
Já conhece as nossas playlist no spotify?
→ Para ouvir sem as crias
→ Para ouvir com as crias
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