Divinas Tretas #17
Newsletter sobre Carnaval. Com dicas do peito com as crias e sem as crias do Rio e do Mundo.
Olá! Temos uma novidade, a partir de agora teremos mais newsletters temáticas. E o tema da vez é o Carnaval. Por aqui a festa foi bem diversa para cada uma das Divinas. No final algumas dicas pra quem ainda tem pique e gás pra curtir mais Carnaval.
E por aí? Como foi a festa do calor e do caos pra vocês?
Aviso: tudo que estiver em azul é link (pode clicar)
Perrengue bom
Acredito que exista por aí um espírito do Carnaval, tipo um ser mágico que consegue encarnar em várias almas ao mesmo tempo aqui na terra. Por muitos anos, eu fugi desse espírito. Escolhi viajar e me isolar em algum sítio ou praia. Mas, agora depois de tanto tempo de isolamento forçado, preferi ficar na cidade e curtir dentro das minhas atuais limitações.
Como o nosso primeiro bloco seria o da escola da Maya, resolvi me preparar de leve. Comprei um glitter básico, um arco, e a pequena usou a fantasia que herdou da prima. Chegamos cedo e estava tudo meio vazio ainda. Tinha uma bandinha no palco, serpentinas no ar, balões coloridos e muito brilho.
Logo me vieram as lembranças dos Carnavais da minha infância no interior. Lá a festa era no clube, e eu ia na matinê sempre muito bem fantasiada. Depois, na adolescência, passei a pular a noite com a Turma do Funil, em um bloco que não tocava nada e nem desfilava. Mas a gente se arrumava, cortava as camisetas, depois reunia todo mundo na frente de um carro com som e muita bebida e ali ficávamos até a hora de entrar no clube.
No Brasil, cada lugar faz o seu próprio Carnaval.
Voltando para o primeiro bloco da minha filha, no começo ela não gostou. Estranhou toda aquela bagunça e não conhecia nenhuma marchinha. Ali no meio do caos, me dei conta que faltou introduzir a pequena ao Carnaval. Mas, aos poucos, ela foi se soltando, achando graça em pegar confete, tacando serpentina pro alto e comendo pipoca. No fim, saiu junto com o cortejo de mãos dadas com um amiguinho. E entre risos, gritinhos e choros, vivemos nosso primeiro bloco.
Depois passamos por outros. Alguns foram um total fracasso e tivemos que sair antes do fim. Outros já foram melhores. Fazendo um equilíbrio entre nossos desejos e expectativas, conseguimos curtir bem o feriado.
Mas foi só na quarta-feira de cinzas, no Mulheres Rodadas no Aterro, que eu entendi que esse não era qualquer Carnaval e sim o primeiro de muitas crianças por conta da pandemia. Esse bloco foi também o primeiro que eu fui sozinha com a minha filha. Não tinha planejado nada. Logo cedo vi a agitação no grupo de mães, resolvi aproveitar a companhia delas e me arriscar. Deu tudo certo, e quando estávamos debaixo de um sol escaldante vendo as meninas dançarem com perna de pau ao som da Luz de Tieta, uma lágrima de emoção se misturou ao meu suor.
Algo de libertador pairava no ar. Nas ruas todos os tipos de corpos andavam confortáveis.
Foi bom demais estar entre tanta gente despudorada e diversa. Sair da zona de conforto e andar livre de julgamentos.
Ano que vem quero pular com a cria e sem a cria. Quero andar pela cidade debaixo da luz do sol e da lua. Vou me planejar, mas já tendo em mente que tudo pode dar errado, e se der, deu. O espírito do Carnaval me pegou e eu não quero fazer sessão de descarrego. Mesmo que seja um grande perrengue, vale tentar e brincar no maior show da terra.
A treta de descarnavalizar
Samba. Suor. Purpurina. Diversão. Caos. Carnaval.
Toda uma mistura que sempre amei na minha vida pregressa de mãe, ainda mais com possibilidade de uso de fantasias. Ah, como sempre amei usar fantasias!
Quando me tornei mãe a minha filha virou praticamente meu chaveirinho e comecei a contagia-la no frenesi que era ser uma adoradora de carnaval.
Era uma excelente desculpa para criar looks mãe e filha e encher tudo de glitter e confete, justificando que é pela cultura da cria.
Aí vieram mais três filhos e já comecei a pensar na fantasia coletiva né? Comecei a pensar em como seria legal sairmos todos fantasiados iguais e o caos que seria essa família carnavalesca.
Eis que aparece a pandemia para dar um tempo na festa de todos, e esse ano eu estava determinada a dar continuidade ao meu plano carnavalesco.
Mas aí a mais velha não curtia mais carnaval. Na verdade os onze anos é a idade que não gosta mais de nada, né?
Eu mesma queria muito que meus filhos conhecessem esse lado dos bailinhos, fantasia e confete, mas e o cansaço?
Daí eles não quiseram ir. Preferiram fazer outras coisas como ficar na piscina com os amigos.
Aí veio aquele mix de sentimentos: alívio e culpa, o famoso pout-pourri que a mãe carrega na pochete do dia a dia.
Foi a tal treta de me descarnavalizar: aliviada em não ter todo o trabalho de levar a um bloquinho estando tão cansada, mas culpada de não curtir com eles tudo que curti com a Sofia, e mais ainda, culpada de não sentir mais a mesma fissura carnavalesca.
Talvez eu tente um bloquinho no final de semana para saber o quanto estou descarnavalizada. Tomara que não seja completamente, porque o coração ainda gosta de uma purpurina, cerveja, suor e samba.
Pulei o carnaval
Pulei mesmo, não participei de nenhum festejo de Momo. Meu desejo era ficar deitada até a quarta de cinzas.
Não fui a nenhum bloco, bloquinho ou blocão. Nem baile, nem bailinho. O máximo de fantasia que usei foi uma máscara de Pj Masks pra ir trabalhar na sexta feira.
E não é porque sou contra, nem nada do tipo, é pura e simples PREGUIÇA. Preguiça de carnaval, eu toda.
Preguiça de sair de casa, no calor, de ficar horas em pé, no calor (já falei?), me “relando” em gente suada e purpurinada. Preguiça de precisar convencer o conje, que é do time caseiro, a enfrentar essa aventura comigo. Preguiça de ter que convencer também o “menó”, serzinho de 5 anos e pouquíssima boa vontade, a sair pra um lugar cheio, quente e com música alta. Preguiça também de lidar com as reclamações de ambos enquanto eu tento me divertir.
Eu até gosto da ideia conceitual de sair pra um bloco, estar num momento de descontração, cantar alto junto com várias pessoas, pirar na fantasia. Mas fica aí. Porque a realidade de sair com esses dois caseiros pra programas-perrengue já se abateu sobre mim vezes suficientes pra eu ver que não vale a pena.
Talvez você diga que uso como escudo esses dois fatos sobre mim (estar casada e ter filho pequeno) para justificar a ausência nesses agitos. Talvez você esteja certa 🙃.
Mas refletindo mais fundo agora enquanto escrevo esse texto, eu percebo que também rola muito aquela coisa de querer agradar sempre, visto que as reclamações alheias me incomodam tanto a ponto de eu não querer ir pro bloco. É preguiça e também é autoproteção emocional.
Caramba, não achei que escrever sobre o carnaval fosse me levar a uma auto-análise. A escrita é realmente terapêutica.
Todo Carnaval tem seu começo
Eu adoro Carnaval. Não somente os blocos, como também o feriado em si, esse clima de desligamento total de todas as obrigações porque necessariamente tudo para. Esse clima de comemoração coletiva. É a época do ano que parece que os problemas pausam, mesmo que momentaneamente. E isso mesmo que você não vá a bloco nenhum e fuja pra Serra ou pra qualquer outro lugar. Afinal, Carnaval é quase que um estado de espírito, não somente blocos ou festas.
Quando a pandemia fechou tudo pouco depois do Carnaval, minha filha tinha 1 ano e 7 meses. Nesse Carnaval chegamos a ir em alguns poucos blocos com ela, mas ela não tem nenhuma recordação. Ano passado, no Carnaval que não teve mas teve, não fomos em nada, já que o Tomé tinha poucos meses e tinha acabado de sair de uma internação no CTI. Aí veio aquele Carnaval de abril. Todos estavam bem e recuperados. Oba, pensei, minha oportunidade de mostrar a Eva o que é o Carnaval, mesmo que fora de época, afinal, para ela, a festa era algo completamente virtual. Fomos em um bloco infantil e pimba, surgiu com mão pé boca e ficamos de casa o resto do Carnaval de abril.
Esse ano eu tava animada pra levar a Eva (e o Tomé, claro) para alguns blocos infantis. Começamos ainda no pré Carnaval em dois na general Glicério (um deles o Mini Seres do Mar, épico) e marcando com diversas amiguinhas da minha filha. Ela curtiu? Curtiu, mas achou meio confuso, não dava pra brincar com as amigas da mesma forma que em outras situações e passou um bocado de calor.
Na quinta antes do Carnaval fomos no Cobra Sarada, no Parque Guinle. Fomos cansados pós escola, tivemos dificuldade de achar as amiguinhas da Eva, o parque que é tão familiar pra ela estava lotado e ela não podia fazer como sempre faz por lá de se afastar e ir em todos os brinquedos. Eva quis ver a banda, mas a multidão tornou a tarefa impossível. O Tomé estava exausto após um dia cheio de adaptação escolar e não estava no melhor dos humores. E nós, mamãe e papai, passando por um pepinaço no trabalho e tendo que ficar um pouco no celular pra resolver. Também longe de estarmos no nosso melhor humor. Tudo convergindo para uma experiência carnavalesca da pior estirpe. Para finalizar, quando decidimos ir embora, tivemos que andar um bocado, já que o papai só tinha achado vaga na São Salvador.
E antes de entrar no carro, a cereja no topo do sunday (ou da torta de climão): papai pisa num baita cocô.
A moral da turma ficou abalada. Mas a experiência não trouxe inverdades sobre o Carnaval. Ela só calhou de concatenar todos os tipos de perrengues que podem vir a acontecer nos blocos de rua. E de uma certa forma, foi essa experiência que ditou o tom do primeiro Carnaval de verdade da Eva. A disposição dela para ir a blocos infantis ficou praticamente nula e acabamos não indo em nenhum. No Bloco das Mulheres Rodadas, na quarta de cinzas, consegui levar todos e ver de frente no melhor lugar a apresentação das mulheres de perna de pau. Tudo muito lindo. Mas para Eva foi só calor e mau humor. Voltou pra casa com o pai e deu por encerrado o Carnaval que nunca chegou a começar.
Tudo bem, 2024 virá e depois dele muitos outros carnavais. Pensarei em fantasias legais, curtirei mais o pré Carnaval que é menos cheio. De repente viajaremos no Carnaval pra curtir essa proposta de desligamento de outra forma. Não sei.
Mas uma coisa é fato: criarei menos expectativas. Essa é a maior lição da vida materna.
A treta das expectativas desleais
Primeiro carnaval possível de ser festejado junto com as crianças. Tá, nunca fui de carnaval. Rio de Janeiro + calor + tumulto + meu pequeno tamanho + pressão baixa sempre foram um combo indesejado pra mim. Mas, na gravidez, eu comemorei como se fosse o último. Tipo quando vem aquele desejo de arrumar o ninho, que dizem por aí, sabe? Provável que meu instinto dizia: "nunca mais será como antes". Ele estava realmente certo!
Porém, quase impossível não nutrirmos expectativas.
E, assim, praticamente, todas frustradas. A chegada no bloco já provocava um torpor de sono absurdo, dedo na boca e vontade de deitar. A simpatia quase inerente da criatura desaparecia como que por mágica. E qualquer tentativa de dançar junto era um sacrifício.
Muito complicado ser pais neurocompatíveis nesse momento. Nossa empolgação, às vezes, até gerava uma vontade nela de ir mas, o que ela se deparava no concreto não era o que ela imaginava, suponho. Na verdade, ela nem entende ainda direito o que é essa festa. Então, eu preciso repensar.
Porque, a gente tá falando de que? De crianças de 2, 3, 4, 5 anos… A gente mesmo vai a algum lugar e acha tudo ruim e quer ir embora.
Falando sério. É muito frustrante isso, né? Super entendo nossos pais quando jogavam na nossa cara o "faço tudo por você". A gente acha que tá fazendo o melhor e, na real, são "expectativas desleais", como diria a maravilhosa Vanessa da Matta. E aí, a gente fica com raiva porque a pessoa diz (ou age) o que pensa: ela não não gostou. Pra mim, o pior de tudo é ter que sustentar que ela possa continuar dizendo o que pensa mesmo a gente estando extremamente frustrado. Ao invés do "obrigada mamãe por me trazer nesse lugar tão legal", eles dizem (mesmo que sem palavras): "você me trouxe porque quis (ou até porque eu pedi) mas, não coloque em mim uma expectativa que você inventou da sua cabeça".
Por outro lado, percebi que mesmo sendo difícil - sol, carrinho, comida, calor etc. -, a maioria dos pais gostou de ter saído ou queria ter saído mais (impossibilitados, obviamente, por "nãos" imperativos e desesperados).
Imagino que a quebra do cotidiano maçante, do 24/7 que nunca termina, fez com que, mesmo levando todos os contras em consideração, valesse a pena tentar. Mal ou bem, encontramos pessoas que não víamos há tempos, conversamos nem que por cinco minutos e andamos em ritmos contagiantes, relembrando nossos tempos áureos e também alegres ao seu modo.
Dicas do Peito!
Com elas (as crias)
Blocos
De todas
Ainda dá pra aproveitar alguns blocos no final de semana. Fizemos um garimpo de alguns para curtir com as crias.
Cordão da saudade
Da Pri
Esse é o nome que apelidamos ao crachá que fizemos para a pequena levar para a escola. Com uma foto da família, ele serviria para ela usar nos dias em que a saudade batesse forte. Contudo, atrás, escrevemos o nome dela e os nossos telefones, para caso ela se perca em algum local lotado (ou seja, praia, carnaval ou feirinhas), seja mais fácil essa busca. Primeiro de tudo: ensine sua criança sobre o que fazer quando se perder. Aqui explicamos que é para ela procurar "alguém que pareça uma mamãe", ou seja, uma mulher, de preferência com uma criança ao lado. E dizer seu nome, que não está achando a mamãe e o papai, e que aqui tem o telefone para ligar. Além disso, ela sabe mais ou menos o endereço de casa (bairro e rua que mora).
Sem elas (as crias)
Mais blocos
Da Todas
Pra quem pode curtir sem a cria.
Um bloco só pra você
Da Pri
Se tiver rede de apoio disponível e gostar de carnaval, tente apostar em um turno de um dia que seja para que se divirta. Se não for o caso de pular nesse calor infernal (no caso do hell de janeiro), que você gaste um tempo indo a um lugar especial, sozinha ou acompanhada. Percebi que esse é um momento mesmo que o coletivo entende como "início do ano" e vale poder pensar o daqui pra frente.
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