Divinas Tretas #10 - Ed. Especial Maternidade x Trabalho
Newsletter sobre maternidade real. Com dicas do peito do Rio e do mundo. Afinal, nem tudo é treta. Ou é?
Antes de tudo, muito obrigada por estar aqui!
Aviso: tudo que estiver em azul é link (pode clicar).
Mar revolto
Eu era empreendedora, tinha minha própria empresa que geria de cabo a rabo. Quando decidi engravidar, me planejei para encaixar uma criança na minha vida de correria e confusão. Mas a verdade é que a gente só sabe mesmo o perrengue que é criar um filho quando passa por ele. Não tem como simular ou imaginar o que é que virá.
Uma semana depois da confirmação da minha gravidez, veio o lockdown. E isso eu não tinha planejado mesmo. Nos meus nove meses de espera, li e falei muito mais sobre covid do que sobre amamentação. E todos os planos foram refeitos ou desfeitos. E a empresa fechou com intenção de voltar logo em breve.
Minha filha nasceu e a pandemia seguia firme e forte. A vida virou de ponta cabeça, me senti por meses como se estivesse acontecendo um tsunami interno de emoções, dúvidas, certezas, medos e tantos outros sentimentos.
Mas o tempo passou e as coisas foram se assentando novamente dentro de mim. Quando a Maya completou um ano e nós já tínhamos nos vacinado, colocamos ela na creche.
Lembro como se fosse hoje da sensação estranha de voltar a sentar tranquila na frente do computador, do silêncio da casa, e de correr pra ver se era ela quando escutava alguma outra criança do prédio chorando. Nas minhas primeiras tardes livres, me vi pensando: - e agora, quem sou eu? O que vou fazer da minha vida daqui pra frente?
Não queria voltar a empreender. Não conseguia mais ter energia para aquela relação de mãe e filho que eu tinha com o meu negócio. Mas então o que? Eu não sabia responder.
Toda vez que chegava perto de uma resposta, vinha o tsunami do: vai dar tudo errado, tô velha.
Aí comecei uma fase de fazer milhares de cursos e assistir muitos vídeos na velocidade 2.0 (se você não sabe o que é isso, se liga na minha dica sem a cria). Eu precisava agir.
Mandei currículos para nem sei quantas vagas, pensei em trabalhar com tecnologia (quem nunca?), desisti, fui para outros lados, desisti. E agora, quase dois anos depois, voltei a ter alguma clareza sobre o que é trabalho, sucesso, propósito, missão e quem sou eu nisso tudo. É claro que volta e meia me sinto uma baita fracassada e quero ficar boiando nas minhas nóias.
Mas a gente respira, inspira, coloca um vídeo motivacional e segue em frente. Eu sabia bem lá no fundinho que queria trabalhar com a escrita, e de preferência em home office, mas como vou fazer isso exatamente, eu não sei ainda. Fato é que voltei a empreender -de leve- aqui na newsletter e em outro projeto que a minha empresa gerou.
Meu tempo livre é escasso ainda, minha filha demanda mais do que qualquer emprego que já tive. Estudo muito menos do que gostaria, pego um freela aqui e outro ali.
Estou literalmente juntando os caquinhos da minha queda profissional.
A onda que levou um monte de certezas, também trouxe muitos questionamentos e no meio disso tudo eu sigo tentando encontrar um rumo possível.
A treta da empatia com a maternidade de quem cuida
“Procuro pessoa para cuidar do meu filho que seja: carinhosa, atenciosa, more próximo e não tenha filhos”
O que era um anúncio normal em um grupo de Facebook sobre indicação de babás, me causou estranhamento tamanha normalidade dos atributos exigidos.
Muito se fala de empatia materna e o quanto é importante a gente se colocar no lugar da outra mulher e mãe.
Empatia, no geral, é uma prática que exige constante autovigilância em seu exercício, ainda mais em uma sociedade cada vez mais individualista.
O que me choca mais no mundo da maternidade com relação a essa falta de empatia é quando se tratam das babás.
Minha crítica não é a quem tem babá, veja só, elas estão cada vez mais presentes justamente porque nós mães precisamos e queremos trabalhar. A minha reflexão é sobre as exigências que vão desde a contratação, até a forma como elas se estabelecem nas casas das famílias que as contratam.
Como a gente pode pensar em não contratar uma mãe pelos mesmos motivos que somos o tempo todo descartadas no mercado?
Quantas de nós fomos questionadas quanto ao fato de ter filhos ou quantos filhos temos em uma entrevista de emprego? Quantas deixamos de ser contratadas por isso ou foram questionadas quem iria cuidar dos nossos filhos quando estivéssemos trabalhando?
Compreendo o quanto é difícil deixar de trabalhar porque a babá do nosso filho precisou cuidar do filho dela, mas não seria uma falta de empatia e acolhimento nosso nesse momento?
Do que adianta reivindicarmos cuidado se não prezamos pelos cuidados de outras mulheres?
Ter empatia pela maternidade e cuidado não é pelos nossos pares, mas por todas nós.
Que tal avaliarmos o papel de cuidado com quem cuida?
Não tenho roupa
10:57 - Amiga, me ajuda. Vou voltar a trabalhar semana que vem e NENHUMA das minhas roupas cabem em mim ou têm a ver comigo! Eu fico olhando pra esse armário e pensando: quem comprou essas roupas?! não fui eu! hahahaha… mas sério, #comofas agora? até meu pé cresceu e os tênis não estão cabendo kkkrying
12:38 - Então… consegui que um avô ficasse com o Tutu agora na soneca depois do almoço e vim correndo no shopping tentar comprar alguma coisa que me agrade, daqui a pouco te mando fotos do que encontrar.
13:45 - Cara, não gostei de NADA! E o que eu gostei não dá pra usar com sutiã de amamentação e nem tirar os peitos pra fora. Pois é, mesmo que eu não vá levar o Tutu comigo pro trabalho ainda vou precisar acessar os mamás pra extrair o leite, não dá pra tirar a roupa toda lá, tem que ser algo de fácil acesso. Caraca, cadê as marcas que pensam nas mães de bebês?! Não tem!
14:22 - Pra não dizer que não comprei nada, achei uma calça pantacourt, um macacão jeans e SÓ. As duas únicas peças que eu gostei mais ou menos de um shopping inteirinho! Como eu vou saber do que eu gosto agora? Sinceramente não achei que as mudanças pós maternidade chegariam a esse ponto: não tenho roupa pra ir trabalhar!
Pode até parecer ficção, mas essa situação aconteceu comigo e minha amiga Aline. Depois de 6 meses de uma longa licença-maternidade (pros padrões brasileiros) e mais um mês de férias, eu estava prestes a retornar ao trabalho e não tinha o que vestir. Contei um pouco desse meu processo lá na edição #2 da newsletter, lembra?
O retorno ao trabalho após a licença quase nunca é sem tretas, e eu, que estava tranquila em relação às rotinas do Tutu, me vi meio perdida com meu novo figurino.
Pra quem não sabe, eu sou figurinista e vestir personagens é o que eu fui treinada pra fazer. Mas e quando você não conhece muito bem essa nova personagem recém nascida? E quando esse figurino precisa de adaptações bem específicas pra atuação dela? Tive que ir descobrindo dia após dia o que funcionava pra ela.
Um dos detalhes que mais me afetava na roupa que precisava escolher era o acesso aos seios para a extração do leite com bombinha, o quão fácil ou difícil seria. Deixei peças bem legais no balcão da loja, que me demandariam ficar praticamente nua na salinha de lactação da empresa.
Além disso, também queria peças que não marcassem minha barriguinha ainda protuberante, que dessem espaço pro meu corpo ainda em recuperação. Difícil de achar, viu.
É também disso que a gente fala quando pede espaço para mães no mercado de trabalho: é o olhar que só uma mãe (ou pessoa muito empática) pode ter.
É saber o que a gente passa na pele, as tretas diárias, até mesmo pra escolher uma roupa de trabalho.
O rolo em que me vejo
Como as coisas são curiosas, né. Eu já falei duas vezes aqui na Divinas Tretas sobre maternidade e vida profissional (aqui e aqui), mas justamente agora, quando resolvemos fazer uma edição temática e o tema escolhido por enquete no nosso insta foi esse, eu me peguei sem conseguir escrever nenhuma linha. E é sobre isso que venho falar.
Minha situação profissional é bastante específica: tenho minha própria empresa. Esta empresa é pequena e muita gente da família do meu marido - inclusive o próprio - trabalha nela, o que faz minha rotina de trabalho não ser exatamente uma rotina 100% profissional. Meu marido é também meu sócio, então trabalhamos em situações de lazer, nos divertimos em situações de trabalho, é uma mistura. Teve uma vez -na época pré-filhos - que cheguei a acordá-lo de madrugada com uma dúvida do trabalho. Aquilo soou um alarme pra mim: era preciso saber separar as coisas. Mas até hoje não sabemos bem.
Da mesma forma que meu casamento é totalmente imbricado na minha vida profissional, minha maternidade também é. Meus filhos frequentam meu ambiente de trabalho, eu trabalho de casa com eles e assim vamos numa ciranda muito específica.
Agora o tema me chegou numa fase complexa que só, em que me peguei revendo tantas coisas, entrando em crise atrás de crise e vi que da minha experiência de maternidade e trabalho não tenho muito o que compartilhar. Não sou a mãe que vai pro trabalho e sente o alívio que é ter um tempo para si, longe dos filhos e dos assuntos de casa. Talvez ano que vem, com o pequeno entrando na escolinha, eu tateie uma certa independência aí nas idas à fábrica, mas seguirei trabalhando em família. Vejo relatos de mães que trabalham fora e me pego com vontade de vivenciar algo assim também. Mas ué, eu não trabalho fora? Trabalho - e como trabalho. Mas o meu fora é dentro também.
Ter uma pequena empresa é treta. E, assim como a maternidade, o ideal seria se todo mundo que entrasse nessa de ter empresa soubesse bem o naipe do quiprocó que estaria se metendo antes de iniciar qualquer coisa. Mas na maioria das vezes se começa na ingenuidade e quando se vê você entrou na maior treta. Opa, isso foi sobre ter filhos ou ter empresa? Mais uma vez, tá tudo embolado pra mim.
Então no auge da minha crise pessoal, me equilibrando para não cair nem no âmbito de um texto pessimista sobre a sobrecarga que é ter filhos pessoa física e filhos pessoa jurídica ao mesmo, nem fazer disso daqui uma sessão de terapia aberta a leitores alheios, deixo aqui minha contribuição nada contribuinte para o tema. Afinal de contas, talvez ninguém se sinta representada pelos meus perrengues na minha configuração de trabalho. Talvez muitas me julguem por ter entrado em tantas ciladas na vida - ter uma pequena empresa numa economia zoada, trabalhar com o marido, trabalhar com a família do marido e ainda ter filhos.
Para todas, eu digo apenas: nem tudo são escolhas. Nem tudo eu escolhi tendo lido antes os termos do contrato. Mas, mesmo evitando fazer disso aqui uma sessão de terapia, a psicanálise não nega:
somos sujeitos da nossa vida e não vítimas de situações que fomos obrigados a aceitar.
Então sei que me deixei ir me embolando ao longo dos anos, que me permiti estar com 7 dias de parida resolvendo perrengue no conselho regional de farmácia mesmo dizendo que me daria 6 meses de licença maternidade, que fico feliz de poder me dedicar a estar com as crianças mais do que tantas mães que voltam a uma jornada cheia deixando seus bebês de 4 meses horas e horas em casa. Sou grata e sou ressentida ao mesmo tempo.
Não venha tretar com meu significado de dayoff
Desde que minha filha nasceu eu não "trabalhei" fora de casa. Primeiro porque estava em licença para o doutorado e depois, com a pandemia, em trabalho remoto. Outro filho veio e permaneci afastada por mais 11 meses. Até que finalmente voltei em trabalho híbrido, ou seja, presencialmente estou uma vez por semana, porém trabalhando remotamente no resto do tempo.
Foi complicado pensar na dinâmica de deixar o bebê um dia porque, afinal, eu nunca havia passado por isso. Minha presença era 24x7. Mas já na primeira terça-feira, foi tudo perfeito e eu tive inéditas 10 horas sem nenhum filho me demandando. Apelidei meu dia de escritório de dayoff, porque consigo tomar um café com calma e quente; conversar sem ter que a todo tempo passar um filme na cabeça de que preciso ser a adulta e me controlar emocionalmente pra dar conta da criança desgovernada; fazer o que já sei fazer no atendimento ao público e não ter que ficar elaborando novas respostas e redirecionando as raivas dos outros e; por fim, e principalmente, sentar pra fazer xixi com tanta calma que até sai novo xixi depois de um tempo.Eu nem lembrava que isso acontecia.
Eu nem lembrava como era ir ao banheiro sem ter pressa de sair, me olhar num espelho gigante e até tirar uma self porque me achei linda.
Eu não lembrava como era ouvir música alta no carro e chorar refletindo sobre a vida. Mas quando bate 17h, eu só quero voltar correndo pra casa.
Dicas do Peito!
Com elas (as crias)
Soul
Da Catarina
Esse filme que trata de um assunto tão delicado que é o tal do propósito e como muita gente confunde isso com uma profissão. O filme explica que não é bem assim. Apesar de ser um tanto triste e complexo, acredito que é uma ótima porta de entrada para falar sobre esse assunto com as crias.
Faça seu próprio gelox para transportar seu leite
Da Dani
Você quer levar o leite do trabalho para cria em casa e quer saber como transportar?
Você vai precisar de pote esterilizado ou saquinhos apropriados, uma bolsa térmica e algo que conserve o leite. Para isso, utilize um gelox BBB no maior estilo DYI para o armazenamento e transporte. Pegue garrafinhas de suco ou refrigerante pequenas, coloque com água no freezer e você terá seu próprio gelox! Eles vão conservar seu precioso leite de uma forma bem baratinha.
Dia de levar seu filho pro trabalho
Da Ju
Eu tenho lembranças bem vívidas (inclusive com memória olfativa) do trabalho da minha mãe. Ela trabalhou a maior parte da minha vida na Caixa Econômica e muitas e muitas vezes meu irmão e eu tivemos que ficar por lá depois da escola até ela poder sair. Sou do tempo do talãozinho amarelo para fazer movimentações na conta, na “boca do caixa” e brinquei muito com eles depois que ficaram obsoletos e nós levamos alguns blocos pra casa. Assim como a Marcela falou aqui, também lembro bem da impressora matricial que tinha lá, e da máquina de escrever eletrônica, era incrível!
Assim, minha dica pra unir de maneira positiva maternidade e trabalho é levar sua cria com você um dia. Um dia que seja mais tranquilo, que você não será tão demandada, né. Mostrar pra ela onde você almoça, os colegas mais legais, deixar correr pelos corredores, usar seu crachá, pedir pra ela fazer um desenho bem bonito pra enfeitar seu espaço de trabalho. Eu trabalho em TV e pude trazer meu filho pra conhecer um cenário do Circo do Topetão. Ele ficou maravilhado com a “casa do palhaço” e mesmo anos depois ainda lembra desse dia.
Compre quentinhas pro bebê
Da Pri
Especialmente com a chegada do segundo, todo caos se multiplicou por 10 e aquele tempo de preparar umas comidas sem sal mais específicas pra que a criança possa conhecer os diversos alimentos não existe mais. Dessa forma, passei a comprar algumas diferentes daquelas que eu já fazia. Pego sempre as promoções do peEfinho do Picotico e é só sucesso. Compro pães congelados, peixes e até carne de porco. Coisas que nunca faço em casa têm a preferência.
Outras opções: Tatim comidinhas / Jornada Mima
Sem elas (as crias)
Velocidade 2.0
Da Catarina
Se você precisa assistir muitos vídeos na internet, seja para trabalho, estudar, curiosidade ou porque falta tempo mesmo. O plugin pra aumentar a velocidade é ótimo, porque vamos combinar que nada mais irritante do que gente que fala super devagar. Assim você pode dar uma acelerada e economizar um tempinho. Dá uma olhada aqui pra aprender a instalar e usar.
Como incentivar a maternidade no trabalho
Da Dani
Uma dica para incentivar a maternidade na sua empresária organização é prolongar a licença maternidade ou paternidade.
Essa iniciativa além de valorizar o vínculo entre os pais e os bebês é uma forma de incentivo também ao aleitamento materno.
É possível ser parceiro da maternidade e paternidade e ter incentivos fiscais ao aderir ao programa Empresa Cidadã, criado pela Lei nº 11.770/2008 ― posteriormente atualizada para incluir a prorrogação do afastamento dos pais ― e regulamentado pelo Decreto nº 7.052/2009.
Saiba mais aqui: Programa Empresa Cidadã — Português (Brasil)
Aproveite a calma
Da Ju
Eu amo estar junto com meu filho, mas um dos pontos mais positivos de trabalhar fora pra mim é poder passar algumas horas do meu dia em silêncio, falando com adultos, sem alguém me cutucando o tempo todo, poder almoçar com as duas mãos e na velocidade que eu quiser. Então hoje eu te convido a notar essa calma e perceber que na verdade essa distância da criança pode te ajudar a se sentir mais centrada, mais adulta, mais você mesma… e vai até dar saudade da cria!
Compre quentinhas para sua noite
Da Pri
Essa dica vai especialmente para aquelas que, assim como eu, não curtem jantar. Eu sempre tenho pastéis, batatas e aipins pra usar quando estamos em dias mais pesados, ou seja, quase todos. O Refeitório Radheshyam é figurinha repetida todo mês. Muitos pratos gostosos e bem grandes num precinho ótimo. Tudo vegetariano.
Já conhece as nossas playlist no spotify?
→ Para ouvir sem as crias
→ Para ouvir com as crias
Quer falar com a gente? Mandar sua treta, dica do peito ou só bater um papo.
Envia para divinastrestasrj@gmail.com respondemos assim que der.
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Adorei esta edição! Ver outros relatos de mulheres-mães sobre a questão do trabalho é sempre um abraço. Por coincidencia este assunto vem me atravessado bastante nos últimos tempos, cheguei até a escrever sobre ele aqui: https://munikeavila.substack.com/p/caro-recrutador
A treta por aqui é recomeçar em uma nova área, em um país onde ainda estou aprendendo o idioma (sueco é pior que grego hahahaha). Seguimos, juntas!